quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

4º BIMESTRE FILOSOFIA 3º ANO

Aula 01: ALBERT CAMUS : A REVOLTA DO HOMEM ABSURDO

Albert Camus foi um homem de muitas faces: foi jornalista, romancista, dedicou-se ao teatro, foi militante político e polemista. Os sentimentos que lhe impulsionaram sua obra, agiam frente a um mundo que lhe era estranho, absurdo, mas também fraternal e cheio de sol
POR JORGE LUIS GUTIÉRREZ


Representação do Mito de Sísifo, tema da obra homônima mais filosófica de Camus, pelo italiano Tiziano Vecellio, de 1549
"Camus era uma aventura singular de nossa cultura, um movimento cujas fases e cujo termo final tratávamos de compreender. Representava neste século e contra a história, o herdeiro atual dessa longa fila de moralistas cujas obras constituem talvez o que há de mais original nas letras francesas." Estas palavras de Jean-Paul Sartre sobre seu amigo Albert Camus, são quiçá as que melhor o descrevem. Pois Camus, nascido na Argélia, em 1913, é um dos pensadores mais profundos e originais da língua francesa. Um indício disto é que lhe foi outorgado o Prêmio Novel de Literatura, em 1957. O pensamento de Camus envolve alguns dos grandes temas da Filosofia: o absurdo, o sentido da existência, a revolta e o amor pela vida. "Eu amo a vida, eis a minha verdadeira fraqueza. Amo-a tanto que não tenho nenhuma imaginação para o que não for vida", estas palavras colocadas por Camus na boca de Jean-Baptiste Clamence, personagem central do livro A Queda, são uma boa síntese de sua filosofia.
Albert Camus foi um homem de muitas faces: foi jornalista, romancista, dedicou- se ao teatro, militante político e polemista. Famosas são suas polêmicas com Roland Barthes sobre o livro A Peste, e com Jean-Paul Sartre sobre o livro O Homem Revoltado. Em Camus, sua vida e sua obra entrelaçam-se de uma maneira fecunda e criativa. São seus sentimentos que impulsionam sua obra, seu sentir frente a um mundo que lhe era estranho, absurdo, mas também fraternal e cheio de sol. Para Camus, um grande escritor sempre traz consigo seu mundo e sua prédica. E o mundo de Camus é um mundo do absurdo, num primeiro momento, e da revolta num segundo. Da fraternidade e da solidariedade. Dos mal-entendidos e da miséria. Do sol e dos desertos, especialmente no livro O estrangeiro, onde o personagem Meursault mata "por causa do sol" frente ao mar e ao deserto. Porém, não são somente as personagens que se sentem como estrangeiros, Camus sentese também estrangeiro neste mundo, por isso o titulo do livro. Sente-se exilado, atuando sempre num cenário para o qual não estava preparado e não consegue entender. Suas expectativas são sempre diferentes das que a vida oferece. Então, nasce o sentimento de exílio. Ele afirma: "não existe pátria para quem desespera e, quanto a mim, sei que o mar me precede e me segue, e minha loucura está sempre pronta. Aqueles que se amam e são separados podem viver sua dor, mas isso não é desespero: eles sabem que o amor existe. Eis porque sofro, de olhos secos, este exílio. Espero ainda. Um dia chega, enfim."
O estrangeiro, que se passa na Argélia, foi publicado em 1942 e é, possivelmente, o romance mais conhecido de Camus


Para o franco-argelino Albert Camus, o homem absurdo é aquele que, sem o negar, nada faz pelo eterno
Ele não é um filósofo preocupado com definições nem com um rigor conceitual. Para ele, a Filosofia sempre é vida e os parâmetros do filosofar são sempre subjetivos e ancorados na sua vida. Sua filosofia é um pensar sobre a existência, porém não desde seus aspectos teóricos ou conceituais, mas práticos e existenciais. Assim, constantemente, está referindo-se a ele mesmo. E novamente serão as personagens do livro A queda que falam: "Nunca me lembrei senão de mim mesmo. Nunca me preocupei com os grandes problemas, eu vivia intensamente e num livre abandono à felicidade." A subjetividade vai até o próprio conceito de verdade, quando Camus afirma "chamo verdade a tudo o que continua." Assim, Camus é um filósofo preocupado com os simples, cotidianos e profundos problemas da existência. Especialmente com a felicidade. E quando se refere a ela, novamente suas personagens expressam-se. Vejamos um exemplo: "então, planando em pensamento por cima de todo este continente que me é subordinado sem saber, bebendo a luz de absinto que se eleva, ébrio, enfim, de palavras más, sou feliz, sou feliz, estou lhe dizendo, proíbo-o de não acreditar que sou feliz, que morro de felicidade! Ah, sol, praias, e as ilhas sob o os alísios, juventude cuja lembrança desespera!" Sempre sobre uma terra onde tudo é "Tarde demais, longe demais".
A obra de Camus é extensa e variada. Analisaremos alguns aspectos dela. Em Camus, a Filosofia e literatura misturam- se criativamente. A Filosofia vai sendo elaborada mediante os diálogos das personagens, do enredo das obras, nos romances, nas peças de teatro. É a ficção que caminha com a Filosofia através da obra de Camus. E é através das personagens que vai delineando-se sua filosofia e seu sentimento frente ao mundo. Vejamos o caso de Janine. Ela é a única mulher protagonista das obras do francês, personagem central do conto A mulher adultera. Ela enfrenta um problema complexo: seu exílio é seu próprio corpo. Por isso, embora Janine estivesse lá, nada se assemelhava ao que havia imaginado. Vemos novamente o problema das expectativas, das esperanças, do que imaginamos e o que de fatos são as coisas. Por isso para Janine nada se passava como previra, nem nada se assemelhava ao que havia esperado. E, novamente, o sentimento que se está vivendo num mundo estranho, num cenário diferente do que devia ser. Por isso Janine não sabia onde colocar a bolsa, onde se colocar a si própria. Ela sentia apenas a sua solidão, o frio que a penetrava e um peso maior no lugar do coração. Camus coloca nessa mulher os matizes de sua filosofia, e novamente aparecem as palavras "falta" e "espera". Vejamos o texto: "Lá embaixo, mais para o sul, no lugar em que o céu e a terra se uniam numa linha pura, lá embaixo parecia-lhe que, de repente, alguma coisa até aquele dia desconhecia e que, no entanto, sempre lhe fi- zera falta, estava à sua espera.". E ainda: "Janine não conseguia se arrancar à contemplação desses fogos à deriva. Girava com eles, e o mesmo caminhar imóvel unia-a, pouco a pouco, ao seu ser mais profundo, onde o frio e o desejo agora se combatiam. Diante dela, as estrelas caíam uma a uma, depois extinguiam-se entre as pedras do deserto; a cada vez, Janine abria-se um pouco mais para a noite. Respirava, esquecia o frio, o peso dos seres, a vida demente ou imobilizada, a longa angústia de viver e morrer. Depois de tantos anos durante os quais, fugindo do medo, correra loucamente sem objetivo, finalmente ela se detinha. Parecia que encontrara suas raízes, a seiva tornava a subir em seu corpo, que já não temia". Tudo isso tornava Janine uma mulher adúltera: ela se abria para a noite e deixava a seiva e o frio subir por seu corpo. Ela era adúltera porque respirava esquecida do frio que a penetrava e do peso dos seres.

AULA 02: O PENSAMENTO DE ESPINOZA
PENSAMENTO DO DIA: “Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela”. (Confúcio)

Logo no início de sua carreira filosófica, Espinoza escreve no Tratado da Reforma do Entendimento que a busca do prazer e das honras trazia mais males do que bem e que todos os males da humanidade derivavam da busca destes bens. Espinoza passou então a inquirir se o verdadeiro bem, “uma vez encontrado e adquirido, proporcionasse a fruição eterna da suprema e contínua alegria.” (Espinoza, 1987). Este era a base intelectual sobre qual o pensador pautaria toda a sua vida prática e intelectual. Em sua obra máxima, Ética, Espinoza nos dá uma visão do conceito de Deus, único em toda a filosofia ocidental. Diferentemente de Descartes e outros autores, Espinoza não se propõe a provar a existência de Deus.
A sua Ética já inicia a parte I com a seguinte definição: “Entendo por causa de si aquilo cuja essência implica a existência; ou, em outras palavras, aquilo cuja natureza não pode ser concebida senão como existente.” (Espinoza, 2002). Isto, cuja existência é evidente, é a substância. Enquanto Descartes defendia a existência de diversas substâncias, para Espinoza só existia uma substância, cuja existência é evidente aos sentidos: “Entendo por substância o que é em si e se concebe por si: isto é, aquilo cujo conceito não tem necessidade de outra coisa, do qual deve ser formado.” (ibidem). O argumento seguinte é que esta substância é Deus, como Espinoza especifica na VI definição da parte I da Ética: “Entendo por Deus um ser absolutamente infinito, isto é, uma substância constituída por uma infinidade de atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita.”
A partir deste raciocínio, Espinoza afirma que Deus é necessidade absoluta e dele procedem os infinitos atributos (o que se afirma ou se nega do sujeito) e infinitos modos (formas de ser) de que é formado. A seguir, Espinoza define que entre os modos da substância estão todas as coisas, já que estes (os modos) são infinitos. Portanto, cada ente individualmente é um modo da substância e parte dela.
Existem, pois, duas maneiras de ser: a da substância e a de seus atributos, e a das manifestações da substância. Às manifestações da substância Espinoza dá o nome de modos da substância. “Deus, demonstra Espinosa, não é causa existente transitiva de todas as coisas ou de todos os seus modos, isto é, não é uma causa que se separa dos efeitos após havê-los produzido, mas é causa eficiente imanente de seus modos, não se separa deles, e sim se exprime neles e eles O exprimem.” (Chauí, 1995).

Por identificar Deus (ou a substância) à matéria, Espinoza foi classificado como filósofo ateu; no mínimo monista. Em seus textos, principalmente na Ética, caso se substitua a palavra “Deus” ou “substância” pela palavra “matéria” as argumentações do filósofo ficam bem mais claras.

ESPINOZA DISTINGUE TRÊS FORMAS DE CONHECIMENTO:
a) O empírico, ligado às percepções sensoriais;
b) O conhecimento segundo a (razão), representado pelas ciências;
c) O conhecimento da ciência intuitiva, que é a visão das coisas na visão do próprio Deus.

QUESTONAMENTOS:

¹.  Tente explicar as três formas de conhecimento segundo Espinoza;
².  Comente sobre a substância e sua importância para o homem moderno. 
DICA DE LEITURA: FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas. Artmed, Porto Alegre: 2009.

AULA 03: EPICURO
PENSAMENTO DO DIA:“O fruto mais saboroso da auto-suficiência é a liberdade.” (Epicuro)

A doutrina de Epicuro surgiu em um momento de insatisfação com a condição das Cidades-Estados gregas. A vida social na Pólis era leviana e marcada pela injustiça social. O poder se concentrava nas mãos de poucos: a aristocracia urbana. Não havia felicidade entres os homens no contexto social, no qual as pessoas se interessavam estritamente pelas riquezas e pelo poder; no contexto religioso, no qual predominava a superstição, a religião tornou-se servil, cercada de mitos e ritos sem significação e também crescia a procura por oráculos e a crença em adivinhações. As pessoas gozavam dos prazeres mais supérfluos advindos das riquezas e, assim, eram relativamente felizes, pois estavam se esquecendo do que realmente proporciona a felicidade. Foi a partir disso que Epicuro criou sua doutrina contra a superstição e os bens materiais, voltada para uma reflexão interior e busca da verdadeira felicidade.
Essa doutrina é dividida em canônica, física e ética. Porém, as duas primeiras partes são esclarecimentos para a fundamentação da ética, visto que as ciências naturais só são importantes na medida em que servem de auxílio à moral. Nenhuma teoria é válida se não possuir um objetivo moral, o qual não possa ser aplicado na vida prática. A finalidade de sua ética consiste em propiciar a felicidade aos homens, de modo que essa possa libertá-los das mazelas que os atormentam, quer advenham de circunstâncias políticas e sociais, quer sejam causadas por motivos religiosos.
A Felicidade é alcançada por meio do controle dos medos e dos desejos, de maneira que seja possível chegar à ataraxia, a qual representa um estado de prazer estável e equilíbrio e, consequentemente, a um estado de tranquilidade e a ausência de perturbações, pois, conforme Epicuro, há prazeres maus e violentos, decorrentes do vício e que são passageiros, provocando somente insatisfação e dor. Mas também há prazeres decorrentes da busca moderada da Felicidade.
Segundo Epicuro, a posse de poucos bens materiais e a não obtenção de cargos públicos proporcionam uma vida feliz e repleta de tranquilidade interior, visto que essas coisas trazem variadas perturbações. Por isso, as condições necessárias para a boa saúde da alma estão na humildade. E para alcançar a felicidade, Epicuro cria 4 “remédios”:
1. Não se deve temer os deuses;
2. Não se deve temer a morte;
3. O Bem não é difícil de se alcançar;
4. Os males não são difíceis de suportar.
De acordo com essas recomendações, é possível cultivar pensamentos positivos os quais capacitam a pessoa a ter uma vida filosófica baseada em uma ética. A felicidade se alcança através de poucas coisas materiais em detrimento da busca do prazer voluptuoso. O homem ao buscar o prazer procura a felicidade natural. No entanto é necessário saber escolher de modo que se evite os prazeres que causam maiores dores; quando o homem não sabe escolher, surge a dor e a infelicidade.
O sábio deve saber suportar a dor, visto que logo essa acabará ou até mesmo as que duram por um tempo maior são suportáveis. A conquista do prazer e a supressão da dor se dão pela sabedoria que encontra um estado de satisfação interna. A virtude subordinada ao prazer só pode ser alcançada pelos seguintes itens:
•    Inteligência – a prudência, o ponderamento que busca o verdadeiro prazer e evita a dor;
•    Raciocínio – reflete sobre os ponderamentos levantados para conhecer qual prazer é mais vantajoso, qual deve ser suportado, qual pode atribuir um prazer maior, etc. O prazer como forma de suprimir a dor é um bem absoluto, pois não pode ser acrescentado a ele nenhum maior ou novo prazer.
•    Autodomínio – evita o que é supérfluo, como bens materiais, cultura sofisticada e participação política;
•    Justiça – deve ser buscada pelos frutos que produz, pois foi estipulada para que não haja prejuízo entre os homens.
Enfim, todo empenho de Epicuro tinha como meta a felicidade dos homens. Nos jardins (comunidade dos discípulos de Epicuro) reinava a alegria e a vida simples. A amizade era o melhor dos sentimentos, pois proporcionava a correção das faltas uns dos outros, permitindo as suas correções. Com isso, a moral epicurista é baseada na propagação de suas ações, pois ele não se restringiu apenas ao sentimento e ao prazer como normas de moralidade, mas foi muito além de sua própria teoria, sendo o exemplo vivo da doutrina que proferia.
Para nós, prazer significa: não ter dores no âmbito físico e não sentir falta de serenidade no âmbito da alma”. Em outras palavras, a ataraxia.
QUESTIONAMENTOS:

¹ Por que, então, sua filosofia despertou tamanha reação negativa?
² E quem não deseja evitar a dor e ser feliz nesse mundo?
A doutrina de Epicuro surgiu em um momento de insatisfação com a condição das Cidades-Estados gregas. A vida social na Pólis era leviana e marcada pela injustiça social. O poder se concentrava nas mãos de poucos: a aristocracia urbana. Não havia felicidade entres os homens no contexto social, no qual as pessoas se interessavam estritamente pelas riquezas e pelo poder; no contexto religioso, no qual predominava a superstição, a religião tornou-se servil, cercada de mitos e ritos sem significação e também crescia a procura por oráculos e a crença em adivinhações. As pessoas gozavam dos prazeres mais supérfluos advindos das riquezas e, assim, eram relativamente felizes, pois estavam se esquecendo do que realmente proporciona a felicidade. Foi a partir disso que Epicuro criou sua doutrina contra a superstição e os bens materiais, voltada para uma reflexão interior e busca da verdadeira felicidade.
Essa doutrina é dividida em canônica, física e ética. Porém, as duas primeiras partes são esclarecimentos para a fundamentação da ética, visto que as ciências naturais só são importantes na medida em que servem de auxílio à moral. Nenhuma teoria é válida se não possuir um objetivo moral, o qual não possa ser aplicado na vida prática. A finalidade de sua ética consiste em propiciar a felicidade aos homens, de modo que essa possa libertá-los das mazelas que os atormentam, quer advenham de circunstâncias políticas e sociais, quer sejam causadas por motivos religiosos.
A Felicidade é alcançada por meio do controle dos medos e dos desejos, de maneira que seja possível chegar à ataraxia, a qual representa um estado de prazer estável e equilíbrio e, consequentemente, a um estado de tranquilidade e a ausência de perturbações, pois, conforme Epicuro, há prazeres maus e violentos, decorrentes do vício e que são passageiros, provocando somente insatisfação e dor. Mas também há prazeres decorrentes da busca moderada da Felicidade.
Segundo Epicuro, a posse de poucos bens materiais e a não obtenção de cargos públicos proporcionam uma vida feliz e repleta de tranquilidade interior, visto que essas coisas trazem variadas perturbações. Por isso, as condições necessárias para a boa saúde da alma estão na humildade. E para alcançar a felicidade, Epicuro cria 4 “remédios”:
1. Não se deve temer os deuses;
2. Não se deve temer a morte;
3. O Bem não é difícil de se alcançar;
4. Os males não são difíceis de suportar.
De acordo com essas recomendações, é possível cultivar pensamentos positivos os quais capacitam a pessoa a ter uma vida filosófica baseada em uma ética. A felicidade se alcança através de poucas coisas materiais em detrimento da busca do prazer voluptuoso. O homem ao buscar o prazer procura a felicidade natural. No entanto é necessário saber escolher de modo que se evite os prazeres que causam maiores dores; quando o homem não sabe escolher, surge a dor e a infelicidade.
O sábio deve saber suportar a dor, visto que logo essa acabará ou até mesmo as que duram por um tempo maior são suportáveis. A conquista do prazer e a supressão da dor se dão pela sabedoria que encontra um estado de satisfação interna. A virtude subordinada ao prazer só pode ser alcançada pelos seguintes itens:
•    Inteligência – a prudência, o ponderamento que busca o verdadeiro prazer e evita a dor;
•    Raciocínio – reflete sobre os ponderamentos levantados para conhecer qual prazer é mais vantajoso, qual deve ser suportado, qual pode atribuir um prazer maior, etc. O prazer como forma de suprimir a dor é um bem absoluto, pois não pode ser acrescentado a ele nenhum maior ou novo prazer.
•    Autodomínio – evita o que é supérfluo, como bens materiais, cultura sofisticada e participação política;
•    Justiça – deve ser buscada pelos frutos que produz, pois foi estipulada para que não haja prejuízo entre os homens.
Enfim, todo empenho de Epicuro tinha como meta a felicidade dos homens. Nos jardins (comunidade dos discípulos de Epicuro) reinava a alegria e a vida simples. A amizade era o melhor dos sentimentos, pois proporcionava a correção das faltas uns dos outros, permitindo as suas correções. Com isso, a moral epicurista é baseada na propagação de suas ações, pois ele não se restringiu apenas ao sentimento e ao prazer como normas de moralidade, mas foi muito além de sua própria teoria, sendo o exemplo vivo da doutrina que proferia.
AULA 04: THOMAS MORUS – A UTOPIA NO SÉCULO XVI
PENSAMENTO DO DIA: “Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela”. (Confúcio)

 Thomas Morus, forma alatinada por que é literariamente conhecido Thomas Moore, Grande Chanceler da Inglaterra, nasceu em Londres em 1478 e foi aí decapitado em 1535. Filho de um dos juizes do banco dos reis, foi aos quinze anos colocado como pagem do Cardeal Morton, Arcebispo de Cantuária. Em 1497 foi terminar seus estudos em Oxford, onde conheceu Erasmo. Fez durante três anos o curso de Legislação, ao mesmo tempo que se preparava para exercer a advocacia.
Pouco depois da ascensão de Henrique VII, foi referendário e membro do Conselho Privado (1514). Acompanhou o rei da Inglaterra ao campo de Drap d'or em 1520. Após a queda do cardeal Wolsey foi nomeado Grande Chanceler (1529).
Quando Henrique VIII abjurou o catolicismo, Morus, então ligado à Igreja Romana, pediu demissão do cargo (1532), descontentando com esse gesto o Rei. No ano seguinte ofendeu mortalmente Ana Bolena, recusando-se a assistir à sua coroação e a prestar fidelidade a seus descendentes. Foi condenado à prisão perpétua e ao confisco de todos os seus bens. Pouco tempo depois foi condenado à morte por crime de alta traição e decapitado em Londres em 1535.
 A "Utopia", sua obra mais divulgada, e que lhe deu renome universal, foi editada em Basiléia (Suíça) por Erasmo a quem Morus estava ligado por fortes laços de amizade e a quem revelava, em sua correspondência particular, a repugnância que sentia pela vida parasitária e faustosa da corte: "Não podes avaliar", escrevia-lhe, "com que aversão me encontro envolvido nesses negócios de príncipes; não há nada mais odioso que esta embaixada"... Referia-se à embaixada diplomática enviada pelo Rei da Inglaterra a Flandres afim de resolver um dissídio surgido entre este pais e o príncipe Carlos de Castela.
A "Utopia" representa a primeira crítica fundamentada do regime burguês e encerra uma análise profunda das particularidades inerentes ao feudalismo em decadência. A forma é muito simples; é uma conversação íntima durante a qual Morus aborda ex-abrupto as questões mais novas e mais difíceis. Sua palavra, às vezes satírica e jovial, outras, de uma sensibilidade comovedora, é sempre cheia de força.
 A primeira parte é o espelho fiel das injustiças e misérias da sociedade feudal; é, em particular, o martirológio do povo inglês sob o reinado de Henrique VII. Entretanto, o povo inglês não era vítima unicamente da avareza do rei; outras causas de opressão e sofrimento o atormentavam. A nobreza e o clero possuíam a maior parte do solo e das riquezas públicas; estes bens permaneciam estéreis para a grande massa de trabalhadores. Além disso, nessa época, os grandes senhores mantinham uma multidão de vassalos, seja por amor ao fausto, seja para assegurar a impunidade de seus crimes ou ainda para utilizá-los como instrumentos de violência contra os vilões. Esta vassalagem era o terror do camponês e do trabalhador.
Thomas Morus, depois de ter na "Utopia" feito uma sátira a todas as instituições da época, edifica uma sociedade imaginária, ideal, sem propriedade privada, com absoluta comunidade de bens e do solo, sem antagonismos entre a cidade e o campo, sem trabalho assalariado, sem gastos supérfluos e luxos excessivos, com o Estado como órgão administrador da produção, etc.
Embora o caráter essencialmente imaginário e quimérico da "Utopia", a obra de Morus fica na história do socialismo como a primeira tentativa teórica da edificação de uma sociedade baseada na comunidade dos bens. E o seu nome ficou para sempre incorporado ao vocabulário universal como o significado do todo sonho generoso de renovação social...
PARA REFLETIR:  A utopia hoje

Do século XVI até hoje, a utopia foi vivida e alimentada de todas as formas nos diferentes pontos do planeta. A história registra os vários movimentos e modelos de sociedade e de Estado que povos de todo o mundo criaram, viveram, buscaram. Desde a época de Morus até agora a humanidade tem vivido ou assistido a guerras e conflitos diversos a favor ou contra as variadas formas de política e economia que foram surgindo ao longo dos séculos. Tudo em nome de anseios e desejos de bem estar comum ou individual, conforme a utopia de cada um, de cada nação ou de cada governante em nome de sua nação.

PRODUÇÃO TEXTUAL: Baseado no texto acima produza um texto sobre a sua compreensão da utopia hoje. 20 linhas

AULA 05 – ERASMO DE ROTERDÃ – ELOGIO DA LOUCURA
PENSAMENTO DO DIA: “A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos”. Erasmo de Roterdã

ERASMO DE ROTERDÃ (1466 - 1536)

Erasmo posiciona-se contra a construção da filosofia com base no aristotelismo escolástico. Ele acredita que o objetivo da filosofia é conhecer-se a si mesmo, seguindo os passos de Sócrates. Conhecer-se a si mesmo é atingir a sabedoria que está ligada a uma vida religiosa cristã, para ter sabedoria as pessoas não precisam de grandes aprofundamentos filosóficos, basta a leitura e o entendimento de poucos livros que para ele são os Evangelhos e as Epístolas de Paulo apóstolo. Através do entendimento desses livros pode-se retornar à verdadeira natureza do cristianismo, pode-se renascer.
Para que esse renascimento e o retorno aconteçam é necessário rejeitar tudo que foi criado pelo poder eclesiástico, é preciso uma reforma religiosa, o cristianismo tem que voltar ás suas origens, ao entendimento das verdades simples que os evangelhos mostram. O caminho da sabedoria e da salvação é simples e passa pela esperança, pela caridade e pela fé sincera. Esses pontos dão liberdade ao espírito e essa liberdade é o verdadeiro ensinamento do evangelho. O espírito cristão não está nas roupas eclesiásticas ou em uma alimentação, mas na sensibilidade na emoção e na compreensão. O cristão pode encontrar tudo isso lendo e interpretando a Bíblia e é da leitura das Sagradas Escrituras que vai renascer o verdadeiro cristão, vai renascer a verdadeira natureza humana. A bíblia é a fonte do cristianismo e nela deve-se beber a água do renascimento.
Em seu livro Elogio da Loucura ele utiliza do sarcasmo e da sátira para demonstrar o declínio da moral religiosa da sua época. Para ele a loucura é o que movimenta a vida, é a mentira que dá sentido à existência. Nossa sociedade e nós mesmos temos por base a mentira e a ilusão e são elas que encobrem a dura realidade em que vivemos, elas tornam a vida mais atraente.
Nas ideias de Erasmo estão as bases do protestantismo de Lutero, mas sobre um ponto Erasmo discorda de Lutero, no livre arbítrio. Para Erasmo na liberdade está a força da vontade humana e através dela o homem pode buscar a salvação por seu próprio mérito.
Em tom conversativo e provocador, Erasmo de Rotterdam como ficou conhecido o filósofo humanista que viveu nos séculos XV e XVI cria um personagem muito conhecido, porém pouco discutido: a loucura. Indignada com a abstenção de elogios a seu respeito, a loucura resolve, por fim, elogiar a si própria e mostrar o quão presente está na vida da sociedade. Versando sobre os mínimos detalhes das ações humanas, ela mostra que está mais presente do que se imagina e revela-se de tal forma necessária e sedutora que acaba por atrair até a simpatia do leitor.
A loucura se diz habitar o casamento, os filósofos, a ciência, as artes, a religião. Em atitude ousada, diz-se, inclusive, regente de governos, da formação de cidades, das relações humanas, do senso comum. Afirma que boa parte da sociedade tal como ela existe em seu tempo se deve à presença da loucura. Os juristas, ao criar centenas de leis sem se preocupar com a relação que existiria ou não entre elas, estão embebidos na loucura. O aspecto encantador das crianças, que retarda todos a sua volta; a busca do jovem pelos prazeres da vida; a busca incessante por verdades e o complexo de sábio dos filósofos; as tentativas ridículas das mulheres para atrair os homens; a ignorância; a esperança, enfim, tudo isso existe graças a ela nada modesta loucura.
Teólogo e cristão, Erasmo ainda assim critica a religião, em especial a católica. Coloca a loucura como regente também desse meio, a aponta como fator explicativo para as guerras em que a igreja se envolve, os impostos que cobra aos fiéis para que suas almas não sejam condenadas, o apego material dos bispos. Para tanto, busca respaldo em frases de importantes personagens religiosos para comprovar que a loucura era aceita como normal por Cristo e por religiosos.
Suas críticas à igreja católica tiveram tamanho impacto em sua época, que levaram Lutero a convidar Erasmo a unir-se a ele no emergente protestantismo, convite esse que foi negado. Erasmo preferiu continuar em sua posição religiosa, criticando-a por dentro.

PRODUÇÃO TEXTUAL:
O Elogio da Loucura consegue manter-se igualmente relevante, denunciador e provocante na atualidade, mostrando consistência em suas idéias e estrutura. Estabeleça um comentário sobre o pensador Erasmo de Roterdã e sua obra famosa o Elogio da Loucura.                               20 linhas





AULA 06: GIORDANO BRUNO
GIORDANO BRUNO: O MARTÍRIO DE UM SÁBIO

A execução do filósofo e cientista Giordano Bruno pelas chamas da Inquisição Romana no ano de 1600, foi um dos acontecimentos mais dramáticos da época do Renascimento. Para alguns representou o fim da tolerância da Igreja Católica para com a dissidência representada por alguns sábios, para outros foi o sinal do recomeço dos tempos obscurantistas que opuseram a fé contra a ciência num confronto que não teve mais fim.
"Ainda que isso seja verdade, não quero crê-lo; porque não é possível que esse infinito possa ser compreendido pela minha cabeça, nem digerido pelo meu estômago..."
Búrquio, num diálogo de G.Bruno, in"... do infinito, do universo e dos mundos", 1584.
A EXECUÇÃO DE BRUNO



Giordano Bruno
Era o dia 17 de fevereiro de 1600 quando o lúgubre cortejo saindo da prisão da Inquisição, ao lado da Igreja de São Pedro, seguiu pelas ruas de Roma até chegar no Campo dei Fiori, uma praça onde uma enorme pilha de lenhas amontoava-se ao redor de uma estaca fincada no terreno. Era a fogueira que iria abrasar vivo o filósofo Giordano Bruno. Trouxeram-no com uma mordaça na boca por temerem que ele pudesse dirigir algumas palavras perigosas ao povo que se juntava a sua passagem. Ao oferecerem-lhe o crucifixo para o beijo derradeiro, revirou os olhos. Em minutos, ao embalo das preces dos monges de San Giovanni Decollato, o verdugo jogou uma tocha na base da pira que, num instante, devorou-lhe as carnes. Estava feito.
Talvez, naquele instante derradeiro, ele recordasse as palavras que certa vez escrevera num momento de profunda melancolia: Vejam, prognosticou Bruno, o que acontece a este cidadão servidor do mundo que tem como o seu pai o Sol e a sua mãe a Terra, vejam como o mundo que ele ama acima de tudo o condena, o persegue e o fará desaparecer. Morto aos 52 anos de idade, tornou-se um mártir do livre-pensamento, e um símbolo da intolerância da Contra-Reforma liderada pela Igreja Católica.
O PROCESSO DA INQUISIÇÃO



Os agentes do Santo Ofício prenderam-no oito anos antes em Veneza, cidade onde o filósofo respondeu ao primeiro processo que a Inquisição lhe moveu. Sabe-se com detalhes deste episódio porque a documentação foi publicada em 1933, por Vicenzo Spampanato (*). Giordano Bruno, que há anos vivia no exterior, teria retornado à Itália em razão de um embuste. Uma dupla de livreiros, atendendo a um desejo de um nobre veneziano chamado Giovanni Mocenigo, ao encontrar Bruno na Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, em 1590, convidou-o para vir à cidade dos doges a pretexto de ensinar a mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória (tida como atividade mágica, herética), na qual ele era um perito.
Uns tempos depois da sua volta à Itália, devido a um áspero desentendimento, Mocenigo trancou-o num quarto da sua mansão e chamou os agentes do tétrico tribunal inquisitorial para levarem-no preso, acusando-o de heresia. Encarceraram-no na prisão de San Castello no dia 26 de maio de 1592.
Na primeira vez em que o interrogaram, Bruno conciliou. De nada lhe serviu. Em seguida, o Santo Ofício de Roma, alegando soberania em casos de heresia, exigiu que o Doge, o governante de Veneza, mesmo a contragosto, lhe enviasse Bruno algemado. Enquanto não se deu o translado, além de terem-no torturado, colocaram-no num espantoso calabouço. Era um poço imundo, úmido e escuro como breu, cavado num porão a beira do canal. A viagem a Roma, ainda que a ferros, deve ter-lhe parecido um alivio.
PRODUÇÃO TEXTUAL: Explique que santo ofício era esse que executava seus críticos.  20 linhas




AULA 07: ROGER BACON  

Para que possamos compreender a importância e o papel de Roger Bacon  na História da Ciência (e cuidado para não confundí-lo com Francis Bacon, chanceler e filosófo inglês do século XVI), devemos entender o  momento em que ele desenvolveu suas idéias: àquele tempo, a Europa, após um período de letargia iniciado com o declínio do Império Romano, entrava em contato com o pensamento e o conhecimento trazido pela civilização árabe, saber esse já aumentado e interpretado pelos pensadores muçulmanos. A estrutura feudal – baseada na propriedade rural, no trabalho agrícola e no predomínio da Igreja enquanto responsável tutelar das idéias e crenças da população – começava a apresentar rachaduras com os novos ares e atmosfera advindos das Cruzadas, movimento em busca de terras e expansão da fé cristã.
A obra de Roger Bacon se insere no quadro de transição do pensamento religioso e/ou vinculado aos clássicos e antigos, para o pensamento científico. Do segundo, tem a preocupação com o racional, com a explicação apoiada em fatos e experimentação (embora possamos questionar essa experimentação se a considerarmos a partir do modelo em que ela é entendida atualmente, já que não dispomos de investigação e estudos filológicos suficientes sobre a terminologia medieval utilizada para designar experiência e experimento), e com a reforma do saber através de sua melhora e “modernização”. Do primeiro, guarda o referencial aristotélico e a utilização da Bíblia como ponto de partida para todo o conhecimento. Segundo Helwing (2003), “não deveria haver outro filósofo medieval tão passível de mal entendidos quanto Roger Bacon. E não porque ele seja estranho demais para nós, mas sim porque sob muitos aspectos ele parece antecipar a modernidade, mesmo pertencendo a um mundo do passado.”
O trabalho de Roger Bacon (1214-1292, datas prováveis) pode ser dividido em duas fases. A primeira compreende sua obra de leitura, análise, questões e comentários sobre Aristóteles. A segunda, já como franciscano, abarca a maior parte da sua obra relacionada à ignorância, filosofia e teologia, línguas, matemática, ótica, ciência experimental e filosofi
Franciscano, químico, físico, matemático, filósofo, teólogo e astrólogo inglês, nascido em Ilchester, Somerset, um dos mais talentosos pensadores britânicos, pioneiro da busca do conhecimento pela prática experimental e conhecido como o Doctor Mirabilis (Admirável doutor). Descendente de família rica, estudou em Oxford, onde foi discípulo de Robert Grosseteste, um dos gênios da época, e foi para Paris, onde se tornou mestre em teologia, ingressou na ordem franciscana, com cujas autoridades teria constantes problemas ao longo da vida. Assumindo um papel crítico e opositor de algumas afirmações da filosofia aristoteliana, defendendo o papel prioritário da investigação científica, aceitando o método aristotélico indutivo-dedutivo e insistindo em que seu êxito dependia do conhecimento exato e extenso dos fatos, tornou-se alvo de perseguições e de condenações.
Comentou, na Universidade de Paris, o tratado pseudo-aristotélico De plantis (Sobre as árvores), e escreveu brilhantes observações sobre a física e a metafísica de Aristóteles, enquanto se aprofundava nos autores árabes que reintroduziram na Europa os pensadores gregos. Escreveu uma gramática do grego e começou outra do hebraico. Provou ainda que vários textos da Bíblia estavam adulterados e muitas traduções de Aristóteles erradas (1251). Voltou para Oxford (1252) sob as bênçãos do núncio apostólico na Inglaterra, seu amigo e que o apoiou. Após ter ensinado algum tempo na Universidade de Oxford, foi obrigado a deixar sua cátedra, após a morte de seu protetor.
Acusado de bruxaria, o ministro geral dos franciscanos, são Boaventura, o colocou sob vigilância em Paris e proibiu a publicação circulação de seus seus textos científicos, foi condenado pela ordem franciscana a permanecer em cárcere, onde ficou por catorze anos e morreu em Oxford. Seu trabalho foi baseado nas observações e acreditava que a ciência poderia resolver todos os problemas do homem. Suas principais obras foram: Opus majus (1257), a única totalmente completa, Opus minus e Opus tertium, que completas deveriam constituir a verdadeira enciclopédia do saber. É considerado uma das figuras mais significativas da escolástica tardia e um precursor do empirismo moderno, além da principal personalidade da Alquimia no seu século.
Crítico agressivo das maiores autoridades de sua época, foi um temperamento genial e original, enciclopédico e místico, cientista e supersticioso. A audácia e a novidade da pesquisa científica valeram-lhe o cognome de Doctor Mirabilis. Pesquisou princípios de mecânica dos fluidos, aprofundou-se em matemática, línguas e notadamente ciências naturais. Propôs a reforma do calendário, fez experiências de óptica e de propagação da força, anteviu as propriedades das lentes convexas, que poderiam se transformar em telescópio ou microscópio, as conseqüências práticas do uso da pólvora, os navios de propulsão mecânica e a possibilidade de vôo de engenhos mais pesados que o ar. Tratou ainda dos problemas de uma viagem de circunavegação.

AULA 08: MARTINHO LUTERO - REFORMA LUTERANA

Martinho Lutero era um professor de teologia pertencente à ordem agostiniana que viveu na cidade de Wittenberg, na região do Sacro Império Germânico. Durante os seus estudos, ele foi fortemente influenciado pelas obras de Jan Huss, São Paulo e Santo Agostinho. Nessa trajetória de estudos teológicos, Lutero acabou formulando um conjunto de idéias que iam contra muitos dos princípios estabelecidos pela igreja romana.
No ano de 1517, insatisfeito com a situação da Igreja de sua época, publicou na porta da catedral de Wittenberg as suas 95 teses. Entre outros pontos estabelecidos por esse documento, Lutero criticava a venda de indulgências e a negociação de cargos eclesiásticos feitas pela Santa Igreja. Além disso, Lutero estipulava uma nova forma de relação religiosa onde, entre outras coisas, afirmava-se que o indivíduo obtinha a salvação pela fé, e não pelos seus atos.
Os princípios defendidos pelo pensamento luterano acabaram tendo grande força no interior do Sacro Império Germânico. Entre a nobreza havia uma grande tendência de oposição contra o poderio eclesiástico. O Sacro Império era controlado por meio de um processo eletivo entre os principais proprietários de terra da região. A Igreja, sendo uma grande proprietária de terras, tinha grande poder de interferência nas questões políticas do Sacro Império.
Essa questão do poder político dos clérigos influía em diferentes grupos sociais da época. Os nobres tinham interesse em se apoderar das terras da Igreja. Ao mesmo tempo, a burguesia local procurava reduzir o pagamento de impostos devidos aos eclesiásticos. A classe campesina também viu nesse episódio de confrontação uma grande oportunidade de reverter sua situação de penúria e subordinação, muitas vezes aprofundada ou legitimada pelo discurso da Igreja.
Por coincidência, a publicação das idéias de Lutero aconteceu no mesmo período em que o papa Leão X organizou uma venda de indulgências em massa. Segundo um documento da Santa Sé, todo o fiel que contribuísse na construção da catedral de São Pedro teria todos os seus pecados perdoados. Lutero, motivado por esse exemplo flagrante de cobiça entre os eclesiásticos, não se curvou mediante a exigência de retratação imposta pelos líderes da Igreja.
No ano de 1520, Martinho Lutero foi excomungado e logo em seguida julgado por uma reunião entre os principies alemães realizada durante a chamada Dieta de Worms. A oposição dos membros religiosos contou com a resistência de boa parte dos principies alemães, que refugiaram Lutero no castelo de Wartburg. Nesse período, o monge excomungado se dedicou à produção de nobres obras teológicas e a tradução da Bíblia para a língua germânica.
A diferença de interesse por de trás da nova fé pregada por Lutero foi percebida quando um grande número de camponeses começou a invadir terras e destruir igrejas. Os revoltosos, também conhecidos como anabatistas, começaram a empreender uma revolução social que ameaçava os interesses dos nobres germânicos. Martinho Lutero não deu apoio ao movimento popular e defendeu o direito de propriedade dos nobres e dos clérigos.
O clima de tensão começou a ser revertido quando, em 1530, Martinho Lutero e Filipe Melanchthon estabeleceram os princípios da religião luterana. Nesta carta, reafirmaram o princípio da salvação pela fé e afirmavam que a Bíblia era a única fonte de consulta para o estabelecimento de dogmas. A nova Igreja seria composta por líderes sem distinção hierárquica e os mesmos não teriam que cumprir voto de castidade.
Depois de fundar os princípios eclesiásticos do luteranismo, a questão dos conflitos sociais veio a ser resolvida anos mais tarde. No ano de 1555, os nobres convertidos ao luteranismo sagraram a assinatura da Paz de Augsburg. No documento ficou decretado que cada um dos principies alemães tinha liberdade para seguir qualquer opção religiosa. Por fim, os conflitos diminuíram e uma nova crença se arraigou na Europa.
A Reforma Protestante foi apenas uma das inúmeras Reformas Religiosas ocorridas após a Idade Média e que tinham como base, além do cunho religioso, a insatisfação com as atitudes da Igreja Católica e seu distanciamento com relação aos princípios primordiais.
Durante a Idade Média a Igreja Católica se tornou muito mais poderosa, interferindo nas decisões políticas e juntando altas somas em dinheiro e terras apoiada pelo sistema feudalista. Desta forma, ela se distanciava de seus ensinamentos e caía em contradição, chegando mesmo a vender indulgências (o que seria o motivo direto da contestação de Martinho Lutero, que deflagrou a Reforma Protestante propriamente dita), ou seja, a Igreja pregava que qualquer cristão poderia comprar o perdão por seus pecados.
Outros fatores que contribuíram para a ocorrência das Reformas foi o fato de que a Igreja condenava abertamente a acumulação de capitais (embora ela mesma o fizesse). Logo, a burguesia ascendente necessitava de uma religião que a redimisse dos pecados da acumulação de dinheiro.
Junto a isso havia o fato de que o sistema feudalista estava agora dando lugar às Monarquias nacionais que começam a despertar na população o sentimento de pertencimento e colocam a Nação e o rei acima dos poderes da Igreja.
Desta forma, Martinho Lutero, monge agostiniano da região da saxônia, deflagrou a Reforma Protestante ao discordar publicamente da prática de venda de indulgências pelo Papa Leão X.
Leão X (1513-1521) com o intuito de terminar a construção da Basílica de São Pedro determinou a venda de indulgências (perdão dos pecados) a todos os cristãos. Lutero, que foi completamente contra, protestou com 95 proposições que afixou na porta da igreja onde era mestre e pregador. Em suas proposições condenava a prática vergonhosa do pagamento de indulgências, o que fez com que Leão X exigisse dele uma retratação pelo ato. O que nunca foi conseguido. Leão X então, excomungou Lutero que em mais uma manifestação de protesto, rasgou a Bula Papal (documento da excomunhão), queimando-a em público.
Então, enquanto Lutero era acolhido por seu protetor, o príncipe Frederico da Saxônia, diversos nobres alemães se aproveitaram da situação como uma oportunidade para tomar os inúmeros bens que a igreja possuía na região. Assim, três revoltas eclodiram: uma em 1522 quando os cavaleiros do império atacaram diversos principados eclesiásticos afim de ganhar terras e poder; outra em 1523, quando a nobreza católica reagiu; e, uma em 1524, quando os camponeses aproveitando-se da situação começaram a lutar pelo fim da servidão e pelas igualdades de condições. Mas esta última também foi rechaçada por uma união entre os católicos, protestantes, burgueses e padres que se sentiram ameaçados e exterminaram mais de 100 mil camponeses. O maior destaque da revolta camponesa na rebelião de 1524 foi Thomas Münzer, suas idéias dariam início ao movimento “anabatista”, uma nova igreja ainda mais radical que a luterana.

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