AULA 01: AS INDAGAÇÕES METAFÍSICAS
PENSAMENTO
DO DIA: “Dois homens olham pela mesma janela,
um vê a lama, o outro vê as estrelas” Frederick Lambridge
POR QUE HÁ SERES EM VEZ DO
NADA?
Por
que uma coisa pode mudar e, no entanto, conservar sua identidade individual, de
tal maneira que podemos dizer que é a mesma
coisa, ainda que a vejamos diferente do que fora antes? Como sabemos que uma
determinada roseira é a mesma que, no ano passado, não passava de um ramo com
poucas folhas e sem flor? Como sabemos que Paulo, hoje adulto, é o mesmo Paulo
que conhecemos criança?
Por
que sinto que sei que sou diferente das coisas? Porém, por que também sinto que
sei que um outro corpo, diferente e semelhante do meu, não é uma coisa,
mas um alguém?
Por
que eu e o outro podemos ver de modo diferente, sentir e gostar de modo
diferente, discordar sobre tantas coisas, fazer coisas diferentes e, no
entanto, ambos admitimos, sem sombra de dúvida, que um triângulo, o número 5, o
círculo, os arcos do palácio da Alvorada, ou as pirâmides do Egito são
exatamente as mesmas coisas para ele e para mim?
Por
exemplo, um filósofo grego não falaria em “nada”, mas em “não-ser”. Não falaria
em “objeto”, mas em “ente”, pois a palavra objeto só foi usada a partir
da Idade Média e, no sentido em que a empregamos hoje, só foi usada a partir do
século XVII. Também, não falaria em “consciência”, mas em “psyche”, isto
é, alma. Jamais falaria em “subjetividade”, pois essa palavra, com o sentido
que lhe damos hoje, só foi usada a partir do século XVIII.
A
mudança do vocabulário da Filosofia no curso desses 25 séculos indica que
mudaram os modos de formular as questões e respondê-las, pois a Filosofia está
na História e possui uma história. No entanto, sob essas mudanças profundas,
permaneceu a questão metafísica fundamental: O que é?
A PERGUNTA PELO QUE É:
A
metafísica é a investigação filosófica que gira em torno da pergunta “O que é?”
Este “é” possui dois sentidos:
1.
Significa “existe”, de modo que a pergunta se refere à existência da realidade
e pode ser transcrita como: “O que existe?”;
2.
Significa “natureza própria de alguma coisa”, de modo que a pergunta se refere
à essência da realidade, podendo ser transcrita como: “Qual é a essência
daquilo que existe?”.
ATIVIDADE PROPOSTA:
[Em equipes]: ¹ Encontre
respostas para os questionamentos do texto.
² Produza um Relatório no final.
DICA DE LEITURA:
LEIA: SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo, Col.
Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 01
AULA
02: EXISTE
DIFERENÇA ENTRE ÉTICA E MORAL?
PENSAMENTO DO DIA: “O homem é incerteza, insegurança,
medo, mas também é desejo, ousadia, razão, conquista”. Arthenyo
Na linguagem comum e mesmo culta ética e moral são sinônimos. Assim dizemos: Aqui há um problema ético ou um
problema moral. Com isso emitimos um juízo de valor sobre alguma prática
pessoal ou social, se boa, se má ou duvidosa.
Mas, aprofundando a questão,
percebemos que ética e moral não são sinônimos. A ética é parte da filosofia.
Considera concepções de fundo, princípios e valores que orientam pessoas e
sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções.
Dizemos, então, que tem caráter e boa índole. A moral é parte da vida concreta.
Trata da prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e
valores aceitos. Uma pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes
e valores estabelecidos que podem ser, eventualmente, questionados pela ética.
Uma pessoa pode ser moral (segue costumes) mas não necessariamente ética
(obedece a princípios).
Embora úteis, estas definições são
abstratas porque não mostram o processo como a ética e a moral, efetivamente,
surgem. E aqui os gregos nos podem ajudar. Eles partem de uma experiência de
base, sempre válida, a da morada entendida existencialmente como o conjunto das
relações entre o meio físico e as pessoas. Chamam à morada de ethos (em grego
com a letra e pronunciada de forma longa). Para que a morada seja morada,
precisa-se organizar o espaço físico (quartos, sala, cozinha) e o espaço humano
(relações entre os moradores entre si e com seus vizinhos), segundo critérios,
valores e princípios para que tudo flua e esteja a contento.
Isso confere caráter à casa e às
pessoas. Os gregos chamam a isso também de ethos. Nós diríamos ética e caráter
ético das pessoas. Ademais, na morada, os moradores têm costumes, maneiras de
organizar as refeições, os encontros, estilos de relacionamento, tensos e
competitivos ou harmoniosos e cooperativos. A isso os gregos chamavam também de
ethos (com a letra e pronunciada de forma curta). Nós diríamos moral e a
postura moral de uma pessoa.
Qual é ética e a moral vigentes hoje?
É a capitalista. Sua ética diz: bom é o que permite acumular mais com menos
investimento e em menos tempo possível. Sua moral concreta reza: empregar menos
gente possível, pagar menos salários e impostos e explorar melhor a natureza. Imaginemos
como seria uma casa e sociedade (ethos) que tivessem tais costumes
(moral/ethos) e produzisse caracteres (ethos/moral) assim conflitivos? Seria
ainda humana e benfazeja à vida? Eis a razão da grave crise atual.
Leonardo Boff
ATIVIDADE PROPOSTA:
Após análise individual,
estabeleça a relação entre moral teórica e moral prática.
DICA DE LEITURA:
LEIA:
RIBEIRO, João Ubaldo. Diário do Farol. São Paulo: Nova Fronteira, 2002.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 02
AULA
03: FEYERABEND E A RADICALIZAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA
PENSAMENTO
DO DIA: “A curiosidade
sobre a vida em todos os aspectos é o segredo das pessoas muito criativas”. Leo Burnett
Para o
filósofo Paul Feyerabend representa a radicalização sobre os fundamentos da
ciência. Ele postula que a ciência é uma atividade metodologicamente anárquica
e que é apenas um dos modos de vida possíveis. Isto porque há vários fatores
que determinam o desenvolvimento científico, desde a metafísica até a política
e a economia.
Segundo
Feyerabend, a ciência, assim como a religião, foi imposta pela cultura
ocidental de forma unilateral. No entanto, embora a religião não mais esteja
vinculada ao Estado e possa ser de livre escolha, a ciência ainda não conseguiu
se dissociar (melhor seria dizer que o Estado não conseguiu ainda se
desvincular da ciência). Basta imaginar, por exemplo, quantos projetos existem
que teoricamente são viáveis, do ponto de vista científico, como carros à água,
hidrogênio, etc., mas que são engavetados ou não se tornam uma realidade em razão
de interesses de grupos econômicos (petrolíferos, por exemplo) que financiam
políticos para atuarem a seu favor.
Para
o filósofo, a escolha pela ciência é estética, subjetiva, isto é, depende de
uma aceitação que ainda só é aderida massivamente por ter sido imposta como
modo de vida superior. A ciência, enquanto conhecimento, não deveria
distinguir-se da não ciência, ou seja, da metafísica, do mito, da poesia, etc.,
já que, para Feyerabend, não há universalidade metodológica, o que decorre em
um pluralismo teórico, no qual as formas de vida e pensamento possam coexistir
democraticamente.
Feyerabend
vê no justificacionismo uma
importante e necessária interação entre o contexto de justificação e o contexto de descoberta,
já que, isolados, são prejudiciais à ciência. É uma tentativa de identificar o
conhecimento empírico, não a partir de prescrições (como para Popper) nem
somente de descrições (como para Kuhn). Visa, portanto, colocar as hipóteses em
debate e votação como em uma sociedade democrática, já que mito e ciência têm a
mesma estrutura, evidenciando, assim, que a separação é artificial.
QUESTIONAMENTOS
E REFLEXÕES:
¹. Explique a radicalização
dos fundamentos da ciência.
². Comente a interação entre
contexto de justificação e o contexto de descoberta.
DICA DE FILME:
A Insustentável Leveza do Ser [EUA, 1988 - direção: Philip Kaufmann].
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] Página 03
AULA 04:
PENSAMENTO DE PASCAL
PENSAMENTO DO DIA: "O que sabemos é uma gota, o
que ignoramos é um oceano." Isaac Newton
Um gênio assustador! Precoce, Pascal demonstrou suas habilidades quando, aos 18 anos de idade, inventou a calculadora. Como matemático e físico, ele se converteu ao Jansenismo e se retirou para Port-Royal. Denunciou em “Les Provinciales” a moral liberal dos Jesuítas.
Mas
foi em “Os Pensamentos”
que fez sua defesa da religião cristã, destinada a tocar os libertinos (pessoas
que negam toda religião revelada, a qual se deve demonstrar) e os céticos (que
colocam tudo em dúvida). Segundo Pascal, o homem é um ser miserável, um “nada
do ponto de vista do infinito universo, um tudo do ponto de vista do nada, isto
é, um meio-termo entre o nada e o tudo”. Ele é incapaz de atingir a verdade,
pois a razão humana é constantemente enganada pela imaginação ou outras
“potências enganadoras”. Sua única esperança é Deus: ele tem tudo a ganhar
apostando na existência Dele. É o famoso argumento da aposta.
Tocado
pela cura miraculosa de sua sobrinha, em 24 de março de 1656, Pascal engajou-se
em uma reflexão sobre a significação dos milagres, iniciando pela luta dos
jansenistas contra os jesuítas e, em seguida, no debate entre cristãos e ateus.
Pouco a pouco, formou-se o projeto de uma apologia da religião cristã que, em
seu primeiro momento, visava apresentar os milagres como fundamento da
religião. O filósofo renuncia, pois, esta argumentação no ano seguinte para
trabalhar em um projeto que funda a religião sobre a Sagrada Escritura e sua interpretação
simbólica.
Basta
abrir os olhos para constatar que o comportamento dos homens é quase sempre
incoerente. Nosso julgamento é inconstante, o exercício de nossa razão é
perturbado pela imaginação, nós vivemos no passado e no futuro, jamais no presente
e nossas mais belas ações têm por causa motivos irrisórios. O mais espantoso
dessa constatação é que ela seja realizada por tão poucas pessoas. Há
incoerência em nossos desejos e em nossa forma de julgar o que é o bom ou o mau
para nós. Não podemos gozar de um bem até que sua perda nos torne infelizes.
Nós buscamos a satisfação por meios falsos, por exemplo, querendo ser
obedecidos porque nós somos belos (vaidade)! Nós somos tão incapazes de
determinar o justo e o injusto que nossa sabedoria aceita a lei e os costumes
de um país, em tudo o que ela tem de arbitrário.
A
ideia geral do Jansenismo é a de que o homem não pode salvar a si próprio. Após
o pecado original, ele pode somente esperar a graça de Deus, concedida a um
pequeno número de eleitos, dom absolutamente gratuito como prova da soberana
liberdade divina. Ela se opõe, assim, às ideias desenvolvidas pela Companhia de
Jesus, inspiradas no teólogo espanhol Molina, segundo as quais o homem poderia
realizar sua salvação no mundo, pois a assistência de Deus é concedida a cada
um no momento da tentação. Essa concepção teológica permitiria, na vida moral,
numerosos acomodamentos com os preceitos religiosos. Ela conciliaria, em todo
caso, vida profana e vida religiosa. Ao contrário, os jansenistas são partidários
do rigor, da austeridade, da retirada das armadilhas ilusórias e dos falsos
pretextos do século.
Dessa
forma, conforme Pascal, os filósofos que se contentam em denunciar a miséria do
homem – os céticos ou pirrônicos – estão enganados; o homem possui também uma
grandeza, e seria somente por isso que ele reconheceria a sua miséria e que há
uma ideia de verdade. Se nossa razão é impotente para compreender os dois
extremos (tudo ou nada) ela pode conhecer o meio, algumas verdades no domínio
científico; nisto ela é ajudada pelo coração,
que nos dá as intuições fundamentais sobre as quais ela constrói, em seguida,
suas demonstrações. Não se trata de certezas inabaláveis. Também só ela não
pode nos dar a fé em Deus. Somente aqueles a quem Deus deu a religião por
sentimento do coração que são bem-aventurados e legitimamente persuadidos, mas
aqueles que não o têm, nós não podemos dá-lo, senão pela razão. O que significa
dar a fé pela razão? Conduzir o homem a tomar consciência de sua contradição e
da impotência das filosofias, já que nelas se afirma e se nega de tudo, e
admitir que somente a religião pode fornecer respostas satisfatórias para
nossos anseios. Mas o princípio sobre o qual repousa estas respostas – o pecado
original – é incompreensível pela razão. É preciso aceitar como um mistério
inacessível. “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.
ATIVIDADE PROPOSTA:
¹ Pesquise sobre Jansenismo.
². Explique a ideia de
miséria do homem.
DICA DE LEITURA:
LEIA: ARANHA, Maria
Lúcia de Arruda. Filosofando:
Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1995.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] Página 04
AULA05: A FILOSOFIA NAS ENTRELINHAS
PENSAMENTO DO DIA: "Para
mim, sábio não é aquele que proclama palavras de sabedoria, mas sim aquele que
demonstra sabedoria em seus atos." São Gregório
“Não há muito tempo, eu mesmo fui
dominado por este fato: parecia-me incrível mas, folheando um livro sobre
Hitler, fiquei emocionado diante de algumas de suas fotos; elas me lembravam do
tempo de minha infância; eu a vivi durante a Guerra; diversos membros de minha
família foram mortos nos campos de concentração nazistas; mas o que era a morte
deles diante daquela fotografia que me lembrava de um tempo de minha vida, um
tempo que não voltaria mais?
Essa reconciliação com Hitler trai a
perversão moral inerente a um mundo fundado essencialmente sobre a inexistência
do retorno, pois tudo nesse mundo é perdoado por antecipação e tudo é
unicamente perdido.”
“Quanto
mais pesado o fardo, mais próxima da Terra está nossa vida, e mais ela é real e
verdadeira.”
“A
contradição pesado-leve é a mais misteriosa e mais ambígua de todas as
contradições.”
“Não
existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não há termo de comparação.
Tudo é vivido pela primeira vez, sem preparação. É como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas,
o que pode valer a vida, se o ensaio da vida já é a própria vida?”
“…Deitar
com uma mulher e dormir com ela: eis duas paixões não somente diferentes, mas
quase contraditórias. O Amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse
desejo pode aplicar-se a uma série inumerável de mulheres!!), mas pelo desejo
do sono compartilhado (ou seja, diz respeito a uma só mulher…).”
“Não
existe nada mais pesado que a compaixão. Mesmo nossa própria dor não é tão
pesada como a dor co-sentida , com o outro, pelo
outro, no lugar do outro, multiplicada pela imaginação, prolongada em centenas
de ecos.”
“(…)
o peso, a necessidade e o valor são três noções íntimas profundamente ligadas:
só é grave aquilo que é necessário, só tem valor aquilo que pesa.”
“Acreditamos
todos que é impensável que o amor de nossa vida seja algo leve, imponderável; achamos que nosso amor é o que devia
ser, que sem ele nossa vida não seria nossa vida.”
“Enquanto
as pessoas são ainda mais ou menos jovens, e a partituras de suas vidas ainda
está nos primeiros compassos, elas podem juntas fazer a composição e trocar os temas, (…), mas quando se encontram numa
idade mais madura, suas partituras musicais estão mais ou menos terminadas, e
cada palavra, cada objeto, significa algo de
diferente na partitura do outro.”
“Tinha
mais ou menos doze anos quando, um dia, ela (a mãe) se via só, tendo sido
subitamente abandonada pelo pai de Franz. Franz suspeitava que algo de grave
havia acontecido, mas sua mãe simulava o drama com palavras neutra e medidas
para não traumatizá-lo. Foi nesse dia, que saíam juntos do apartamento para
darem um passeio pela cidade, que Franz notou que sua mãe estava com os sapatos
descasados. Ficou confuso, quis avisá-la, temendo ao mesmo tempo magoá-la.
Ficou com ela durante duas horas pelas ruas sem poder despregar os olhos de
seus pés. Foi então que teve uma vaga idéia do
que significava sofrer.”
“(…)
a Fidelidade é a primeira de todas as virtudes; a fidelidade dá unidade à nossa
vida que, sem ela, se despedaçaria em mil impressões fugidias.”
“Num
passado remoto, o homem deve ter ouvido com
assombro o som de batidas que vinham do fundo de seu peito, sem conseguir saber
o que era aquilo. Não podia identificar-se com um corpo, essa coisa tão
estranha e desconhecida. O corpo era uma gaiola, e dentro dela, dissimulada,
estava uma coisa qualquer que olhava, escutava, tinha medo, pensava e
espantava-se; essa coisa qualquer, essa sobra que subsistia, deduzido o corpo,
era a alma.
Hoje,
é claro, o corpo deixou de ser um mistério; sabemos que o que bate no peito é o
coração, que o nariz nada mais é do que a extremidade de um cano que avança
para levar oxigênio aos pulmões. O rosto nada
mais é que o painel onde terminam todos os mecanismos físicos: a digestão, a
visão, a respiração, a audição e a reflexão.
Depois
que o homem aprendeu a dar nome a todas as partes de seu corpo, este o inquieta
menos (…). A dualidade da alma e do corpo estava dissimulada por termos
científicos, isso é, hoje, um preconceito fora de moda, que só nos faz
rir. Não basta amar loucamente e ouvir o
ruído dos intestinos para que a unidade da alma e do corpo, ilusão lírica da
era científica, imediatamente se desfaça.”
“A
sensualidade é a mobilização máxima dos sentidos: um indivíduo observa seu
parceiro intensamente, procurando captar seus mínimos ruídos.”
“Essa
escuridão não tem fim nem fronteiras; essa escuridão é o infinito que cada um
de nós traz dentro de si (sim, se alguém busca o infinito, basta fechar os
olhos para encontrá-lo!!).”
ATIVIDADE PROPOSTA:
[INDVIDUAL] Após a leitura dos trechos sobre a escolha uma das passagens em negrito
escreva um texto sobre o que você compreendeu até aqui. 20 linhas
DICA DE LEITURA:
LEIA: Kundera, Milan. A Insustentável Leveza do Ser. São
Paulo: Record, 2002.
Apostila de
Filosofia [3º ANO] 2012 Página 05
AULA
06: DECADÊNCIA DOS POVOS
PENSAMENTO DO DIA: “Decadência é o obscurecimento do mundo, a destruição
da terra, a massificação do homem”. Martin Heidegger
LEIA O TEXTO
DECADÊNCIA DOS POVOS E FAÇA UMA ANÁLISE CRÍTICA:
“Quando
a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer
acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível
com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no Ocidente e
a um concerto sinfônico no Oriente; quando tempo significar apenas rapidez
online; quando o tempo, como história, houver desaparecido da existência de
todos os povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande
homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo,- então,
justamente então - reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E
agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais
força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como...
Decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem
tampouco, com otimismo... O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a
massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já
atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo,
já haverão de ter se tornado ridículas”.
Martin
Heidegger
ATIVIDADE PROPOSTA:
¹
Após a leitura e análise crítica do texto: Decadência dos Povos - Martin Heidegger PRODUZA
um texto sobre a Decadência humana.
20 linhas
²
Explique com suas palavras a seguinte expressão: “Decadência é o obscurecimento
do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem”;
DICA DE LEITURA:
LEIA: BAINES & MÁLEK - O Mundo Egípcio, Deuses Templos e Faraós,
Edições Prado, 1984.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 06
AULA
07: PERCEPÇÃO E LINGUAGEM EM MERLEAU-PONTY E WITTGENSTEIN
PENSAMENTO DO DIA: "A cultura não é um substituto
para a vida, mas a chave para ela." Mallock
Em
sua última obra intitulada O Visível e o
Invisível, Merleau-Ponty toca numa ferida da assim chamada virada
linguística: "só conseguimos reduzir a filosofia a uma análise da
linguagem se assumirmos que a linguagem contém sua evidência em si mesma"
(Merleau-Ponty 1986, pg. 131). A linguagem é um instrumento de concepção do
mundo, mas sua função de deduzir esse mundo não se esgota naquilo que pode ser
obtido a partir de uma análise dos nossos significados de palavras lexicais.
Como diz Austin, uma análise da linguagem não é de modo algum considerada como
um fim em si mesmo. Uma "fenomenologia da linguagem" deve levar em
conta o fato de que as distinções linguísticas são provenientes de um
procedimento de escolha histórico, i.e., "um longo teste de sobrevivência
do mais apto" que nos ensina, na discussão incessante com o mundo à nossa
volta, a colocar em ação o instrumento ‘linguagem’ do modo mais eficiente
possível (Cf. Austin 1977). O conhecimento, na relação recíproca homem/mundo,
que não é adequadamente concebido nem como resultado do uso de dados empíricos
nem através da suposição de uma natureza determinada racionalmente, torna
necessário, para Merleau-Ponty (cf. Merleau-Ponty 1966, pg. 489), um novo
conceito de sentido e de ação que se apõe tanto ao idealismo linguístico quanto
ao esquema behaviorista estímulo-resposta. Sentido e significado não estão
ligados a realizações linguísticas; antes, eles são imanentes a todos os modos
de ação e vivência. Na medida em que a teoria da Gestalt, através da
diferenciação entre figura e fundo, aponta para os trabalhos de formação e
estrururação pré-linguísticos, ela se configura como paradigmática para a
tentativa de esboçar uma genealogia do significado linguístico. Diante desse
pano de fundo, a discussão de Wittgenstein - na segunda parte das Investigações Filosóficas e nas Considerações sobre a Filosofia da
Psicologia -, sobre a apresentação da psicologia da Gestalt de Köhler
(Köhler 1975), adquire um significado especial.
Já
na Estrutura do Comportamento,
Merleau-Ponty reduz a concepção de comportamento à consciência perceptiva (MP
1976). Uma teoria do comportamento sem uma teoria da percepção é impensável.
Entre uma estrutura de comportamento e uma de percepção existe uma relação de
reciprocidade: o espaço do comportamento humano está, de um lado, limitado pela
percepção, que media a nossa relação com o mundo e se constitui no pano de
fundo ineliminável de todas as nossas atividades. Por outro lado, o campo da
percepção, que se aperfeiçoa apenas através do nosso agir vivente, oferece
orientações. Para Merleau-Ponty, o corpo individual é aquela zona de mediação
na qual o limite entre o interno e o externo, entre o puro ato de consciência e
o mero mecanismo corporal se confundem. O conceito de estrutura da teoria da
Gestalt confirma a ambigüidade. Estruturas não são nem idéia nem coisa. Elas se
organizam espontaneamente em totalidades irredutíveis, que são constitutivas de
significado, mas não significados intelectuais. Numa perspectiva
merleau-pontiana, as seguintes questões críticas podem ser dirigidas a
Wittgenstein: o discurso do ‘comportamento’ resiste à ‘retificação’ social,
enquanto expressão quasi-naturalista das vivências psíquicas, sem levar em
conta o fato de que também "o nosso agir, que se funda no jogo de
linguagem" (Über Gewissheit,
parag. 204), encontra um limite naqueles horizontes e perspectivas que são
representadas pela percepção? Uma teoria da percepção não poderia, ao
contrário, contribuir para especificar mais detalhadamente a relação entre jogo
de linguagem e forma de vida? Inversamente, a teoria do "sentido
encarnado" (Waldenfels 1983, cap. 3.) de Merleau-Ponty poderia se
enriquecer se a ela subjazer uma crítica analítica da linguagem. Merleau-Ponty
também fala daquilo que gira em torno de conexões funcionais entre os
organismos e o seu meio ambiente, a saber, a intencionalidade.
PRODUÇÃO TEXTUAL: Estabeleça
um paralelo entre percepção e linguagem. 20 linhas
DICA DE LEITURA:
LEIA: TIME LIFE LIVROS -
Série História em Revista,
Editora Cidade Cultural, Rio de Janeiro, 1995.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 07
AULA
08: O Mistério das Cousas (Fernando Pessoa)
PENSAMENTO DO DIA: "No meio da dificuldade encontra-se a
oportunidade." (Albert Einstein)
Há
Metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber o que não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo" ...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas,
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De que, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber o que não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo" ...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas,
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De que, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
in Pessoa, F. (1981): Obra Poética, Rio de Janeiro: Ed. Aguilar, pgs. 140-1.
ATIVIDADE
PROPOSTA:
PRODUÇÃO
TEXTUAL: Faça um ensaio analítico
sobre o Mistério das Cousas de Fernando Pessoa.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 08
AULA 09: AS
IDEIAS DE MICHEL MONTAIGNE
PENSAMENTO DO DIA:"A grandeza não consiste em receber honras, mas
em merecê-las."Aristóteles
Para Montaigne a escrita é um meio de chegar ao conhecimento de si
Humanista,
Montaigne defende um certo número de teses sobre as quais sempre retoma em seus
Ensaios. Tendo
uma vida dividida entre uma carreira jurídica e administrativa (foi prefeito de
Bordeaux, França), aproveitava-se dos retiros em seu castelo para se isolar e
escrever. O tema: a sabedoria.
Ensaios é
sua obra-prima, que floresceu após 20 anos de reflexão. Consiste em um modo de
pensar crítico à sociedade do século XVI, embora aborde temas variados. Algumas
de suas teses são:
1
– Toda ideia nova é perigosa;
2
– Todos os homens devem ser respeitados (humanismo); e
3
– No domínio da educação, deve-se respeitar a personalidade da criança.
Esta
última tese chama atenção, já que para Montaigne deve-se formar um homem
honesto e capaz de refletir por si mesmo. Este homem deverá procurar o diálogo
com os outros, tendo senso de relatividade sobre todas as coisas. Assim, ele
conseguirá se adaptar à sociedade onde deverá viver em harmonia com os outros
homens e com o mundo. Ele será um espírito livre e liberto de crenças e
superstições.
Segundo
Montaigne, os pensamentos e atitudes do homem estão submetidos ao tempo, que
pode metamorfoseá-los. Para chegar a esta conclusão, costuma-se ver o
pensamento de Montaigne dividido em três etapas evolutivas:
A
primeira fase é a do estoicismo,
na qual o filósofo adota, sob a influência de seu amigo La Boétie, a pretensão
estoica de alcançar a verdade absoluta. Mas seu espírito convive mais com a
dúvida, e a experiência estoica certamente marcou, para sempre, a ruptura de
Montaigne com qualquer ideia de verdade absoluta.
A
segunda fase, como consequência da primeira e também em razão do ambiente em
que viveu, numa França dividida pelos conflitos intelectuais entre católicos e
protestantes, com muita violência e guerras, Montaigne é seduzido pelos
filósofos do ceticismo,
da dúvida. Segundo estes, se o homem não sabe nada de si mesmo, como pode saber
tanto sobre o mundo e sobre Deus e sua vontade? A dúvida é para Montaigne uma
arma contra o fanatismo religioso.
Na
terceira e última etapa, já maduro e ao fim de sua vida, Montaigne se interessa
mais por si mesmo do que por outros filósofos. Seus últimos escritos, os “Ensaios”, são muito
pessoais. Ele se persuadiu de que o único conhecimento digno de valor é aquele
que se adquire por si mesmo. Seu ceticismo ativo é uma tentativa de crítica
radical dos costumes, dos saberes e das instituições da época. Com isto, a
contribuição de Montaigne é fundamental na constituição do pensamento moderno.
Os
“Ensaios” tratam
de uma enorme variedade de temas: da vaidade, da liberdade de consciência, dos
coxos, etc., e por serem ensaios não têm uma unidade aparente. Livremente, o
filósofo deixa seu pensamento fluir e ganhar forma no papel, vagando de ideia
em ideia, de associação a associação. Não escreve para agradar os leitores, nem
escreve de modo técnico ou com vistas à instrução. Ele pretende, ao contrário,
escrever para as gerações futuras, a fim de deixar um traço daquilo que ele
foi, daquilo que ele pensou em um dado momento. Montaigne adotou o princípio
grego “Conhece-te a ti mesmo”. Portanto, segundo ele, a escrita é um meio de
chegar a este conhecimento de si.
ATIVIDADE PROPOSTA:
QUESTIONAMENTOS:
¹.
Comente as fases evolutivas.
PRODUÇÃO TEXTUAL: “Os pensamentos e atitudes do homem estão submetidos ao
tempo, que pode metamorfoseá-los”.
20 Linhas
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 09
AULA 10 O CÍRCULO DE
VIENA
PENSAMENTO DO DIA: O amigo deve ser como o dinheiro, cujo valor já
conhecemos antes de termos necessidade dele. Sócrates
O
Círculo de Viena surgiu
por uma necessidade de fundamentar a ciência a partir das concepções ou
acepções que a Filosofia da Ciência ganhou no século XIX. Até então, a
filosofia era vinculada à Teoria do Conhecimento, mas, a partir de Hegel, este
vínculo se desfez.
O
Círculo de Viena era
composto por cientistas que, apesar de atuarem em várias áreas como física,
economia, etc., buscaram resolver problemas de fundamento da ciência, problemas
estes levantados a partir do descontentamento com os neokantianos (seguidores
de Kant) e os fenomenólogos (seguidores de Hegel).
Schlick,
por exemplo, tentou mostrar o vazio dos enunciados sintéticos a priori, de Kant. E por
duas vias:
-
Se os enunciados têm uma verdade lógica, então eles são analíticos e não
sintéticos;
-
Se a verdade dos enunciados depende de um conteúdo factual, eles são, portanto,
a posteriori e
não a priori.
Dessa
maneira, Schlick (juntamente com seus companheiros) tentou formular um critério
de cientificidade que pudesse ou que tivesse uma correspondência com a
Natureza. Por isso, o Círculo
de Viena adotou uma forma de empirismo
indutivista que se utiliza de instrumentos analíticos como a
lógica e a matemática para auxiliar na formação dos enunciados científicos.
Tal
critério seria, então, o de verificabilidade.
Para os pesquisadores do Círculo
de Viena os enunciados científicos deveriam ter uma comprovação ou
verificação baseada na observação ou experimentação. Isto era feito
indutivamente, ou seja, estabeleciam-se enunciados universais (pois a ciência
tem pretensão de universalidade) a partir da observação de casos particulares.
O
resultado do estabelecimento deste critério surgiu também a partir da concepção
de linguagem de Wittgestein que os membros do Círculo de Viena utilizaram. Para
ele, o mundo era composto de “fatos” atômicos associados e, assim, expressariam
sua realidade. Daí os enunciados gerais poderem ser decompostos em enunciados
elementares referentes ou congruentes à Natureza, o que exclui os enunciados
metafísicos do processo de conhecimento.
Portanto,
a indução foi o método utilizado porque, além de proceder experimentalmente,
proporcionava um caráter de regularidade que permitia que se emitissem juízos
universais. Isto também atesta o caráter antimetafisico do Círculo de Viena, bem
como afirma o procedimento de observação.
QUESTIONAMENTOS:
¹.
Porque Schlick tornou-se a figura central do Círculo de Viena?
².
O que foi o Círculo de Viena?
³.
Explique a teoria da verificabilidade.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 10
AULA 11 RIOBALDO: O
JAGUNÇO-FILÓSOFO
PENSAMENTO DO DIA: "A Natureza da gente não cabe em nenhuma
certeza". Guimarães Rosa
RIOBALDO: O JAGUNÇO-FILÓSOFO
"O
senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido
diferente. Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo... Eu quase que nada
não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo, eu digo: para
pensar longe, sou cão mestre - o senhor solte em minha frente uma idéia
ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos. Amém!" pg. 8
"Como
não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é
possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no
vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não
se podendo facilitar - é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se
descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. (...) Deus existe mesmo quando
não há. (...) Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois
dele a gente tudo vendo." pg. 48
"A
gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto, já está
empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de
lá de tantos assombros... Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é
que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se
dispõe para a gente é no meio da travessia." pg 52
"[U]m
rio é sempre sem antiguidade." pg. 125
"[U]m
amigo... é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é."
pg. 155
"[E]u
careço de que o bom seja bom e o rúim ruím, que dum lado esteja o preto e do
outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da
tristeza! Quero os todos pastos demarcados... Como é que posso com este mundo?
A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel
do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado..." pg. 191-2.
"Tudo
o que já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num cômpito.
Eu penso é assim, na paridade... Um sentir é o do sentente, mas outro é o do
sentidor. O que eu quero, é na palma da minha mão." pg. 273
"Consegui
o pensar direito: penso como um rio tanto anda: que as árvores das beiradas mal
nem vejo... Quem me entende? O que eu queira. Os fatos passados obedecem à
gente; os em vir, também. Só o poder do presente é que é furiável? Não. Esse
obedece igual - e é o que é." pg. 301
"O
senhor não pode estabelecer em sua idéia a minha tristeza quinhoã. Até os
pássaros, consoante os lugares, vão sendo muito diferentes. Ou são os tempos,
travessia da gente?" pg. 353
ATIVIDADE PROPOSTA:
QUESTIONAMENTOS:
¹.
Diante das citações de Riobaldo, comente as contradições expostas.
².
O que fazia o personagem Riobaldo para ser compreendido como filósofo?
DICA DE LEITURA:
LEIA: ROSA, J.
G. : Grande Sertão: Veredas, Rio de
Janeiro: Ed. Nova Fronteira:1988.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 11
AULA 12: ALTER-EGO NA
FILOSOFIA DE LEVINAS
PENSAMENTO
DO DIA: "Não
trate com prioridade quem te trata como opção!" Read More
É muito comum em nossas atividades
diárias experimentarmos um certo gozo incontido, principalmente nas pequenas
coisas. Mesmo aquelas coisas mais repetidas do dia a dia como escovar os
dentes, andar até a escola, visitar um amigo, encontrar-se com um membro
familiar, ir até ao mercado, tomar um sorvete, saborear uma boa comida,
aliviar-se da bexiga cheia... A propósito, um judeu que se preze, nascido em
Israel, educado segundo às Escrituras, certamente já viveu alguma vez na vida a
fabulosa experiência da “beraká”, uma alegria extraordinária que inunda
a alma de amor próprio, de autoconhecimento e de intensa consciência de si
mesmo. Para o judeu, das coisas mais simples às mais complexas, até mesmo
urinar ou saciar a sede com um simples copo d'água é motivo de gozo, de ação de
graças. O judeu dá graças a Deus por tudo! Parece que há um pouco disso na
filosofia da alteridade de Lévinas, principalmente quando se descobre os
limites do eu.
Na contramão do que pensava Kant
sobre a consciência do eu transcendental como fundamento e medida do
conhecimento e da moralidade, Lévinas admitia originariamente que “ser eu é
existir de tal maneira que se esteja já para além do ser, na felicidade. Para o
eu, ser não significa nem se opor, nem se representar alguma coisa, nem se
servir de alguma coisa, nem aspirar a alguma coisa, mas gozar dela”. (LEVINAS,
Emmanuel. Totalité et infini. Trad. José P. Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1988,
p. 124).
Nessa direção pessoal de Lévinas,
temos um eu que se identifica no gozo que sente em viver bem com a realidade do
mundo, em fazer bem as coisas na sua simplicidade, como que se a identidade do
eu viesse junto com a felicidade. Uma espécie de ação de graças por cada ato do
dia realizado, como se isso constituísse o eu de uma grandeza e elevação tal
que o mundo todo se bastasse nele. “O gozo é a própria produção de um ser
que nasce, que rompe a eternidade tranquila da sua existência seminal ou
uterina, para se encerrar numa pessoa que, vivendo no mundo, vive em sua
casa”(idem, p. 54).
Segundo Lévinas, antes de duvidar, o
eu é pura sensibilidade. Antes de abstrair-se, o eu é concreto e pura relação
de si com o mundo. “O eu é sempre mais do que a sua posse. Aliás, não há
posse. Há o indivíduo que se produz a partir de si, de sua própria
subjetividade em um mundo concreto, no qual ele tem poderes e se mantém
apoderando-se das coisas. O eu não se dissolve na totalidade da história e no
absoluto; possui uma identidade que se faz a partir de si na relação com o
mundo”.
(KUIAVA, Evaldo Antônio.
Subjetividade Transcendental e Alteridade: um estudo sobre a questão do outro
em Kant e Levinas. Caxias do Sul, RS: EDUCS. 2003. p. 152).
Mesmo admitindo que existe uma
identidade do eu em relação ao mundo, Lévinas dá ênfase a um dado extremamente
sólido em sua filosofia, a alteridade. A leitura que se faz do ego em Lévinas é
inteiramente submetida à noção de outro, de alter. Daí, sua disposição em
orientar seu pensar para o fulcro da alteridade. “Ao contrário de Kant, para
o qual a autonomia do sujeito era o princípio supremo da moralidade, para
Lévinas a categoria chave do universo ético será a alteridade. O outro não
figurará simplesmente como um alter-ego, um ego como eu. O seu objetivo
consistirá em destituir o eu autônomo e soberano, incapaz de perceber no outro
nada além de si mesmo. Sendo assim, romperá com o primado do eu sobre o
outro”(idem, p. 147).
Ocorre assim, na ontologia de
Lévinas, como já era esperado, uma primazia do outro sobre o eu, uma vez que
somente um eu destituído da sua soberania e soberba poderá ser, de fato, ético.
Não se trata de decretar a morte da subjetividade, mas de combater ao
monologismo e ao monarquismo, ou até mesmo, à uma espécie de ranço da
modernidade em promover uma racionalização legalista no campo da moral e dos
valores. Depõe-se, sem dúvida, com a atividade filosófica de Lévinas voltada
para a alteridade, o caráter normativo da subjetividade kantiana. “Apresentará
a subjetividade como acolhendo Outrem, como hospitalidade”.
(LEVINAS, E. Totalité et infini...op.
cit., p. 12).
Portanto, o eu que pensa, duvida,
dorme, come, respira, sonha, ama, conhece, odeia, imagina, urina e tem sede,
descobre a presença de algo que ultrapassa seus limites, a sua finitude, por
isso, a possibilidade de acolher outrem. É possuindo a ideia de infinito que se
destitui o eu de sua autonomia e de seu pedantismo racional, como se o eu se
dobrasse aos seus próprios limites. Entende-se, com isso, a famosa expressão de
Lévinas: “Possuir a ideia do infinito é já ter acolhido outrem”(idem, p. 94).
.
ATIVIDADE PROPOSTA:
¹. Explique a
definição do Alter-ego em Levinas.
². Estabeleça a
diferença entre Monologismo e Monarquismo.
PRODUÇÃO TEXTUAL: Comente
a relação entre ego e alter-ego. 20
Linhas
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 12
AULA 13: A FACULDADE DE
JULGAR EM KANT
PENSAMENTO
DO DIA: "O
sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa tudo o que diz". Aristóteles
A
Estética kantiana é pensada não mais como uma dimensão objetiva do mundo e sim
como uma dimensão mental, subjetiva. Isto quer dizer que a reflexão sobre a
estética está voltada para as condições de receptibilidade a prazer do sujeito,
também chamada de estado mental ou de conhecimento em geral.
Conhecimento
em geral porque, muito embora na sua Estética Transcendental (Crítica da Razão Pura),
que determina as formas de receptibilidade das sensações (espaço e tempo), essa
se refira somente a um conhecimento específico ou particular, relacionado ao
modo como o sujeito é afetado subjetivamente, não consegue esgotar o problema
do prazer (sentimento) que acompanha a intuição.
Este
prazer, para Kant, não tem nada a ver com o conhecimento que aquela faculdade
(de conhecer) determina e por isso foi tratado separadamente. Este prazer se
refere ao sujeito, à sua sensibilidade ou receptibilidade ao experimentá-lo e é
expresso no predicado Beleza.
Por exemplo, ao observar o céu estrelado acima de nós, temos a sensação
objetiva (vemos algo), estudada na faculdade de conhecer (ciência) e também
temos um sentimento de prazer (subjetivo) ao ver a Beleza do céu (objetivo),
contemplando sua harmonia, sua ordem, como se tivesse sido feito por Deus, o
artista da natureza, estudada na faculdade de julgar estética.
Entretanto,
a partir do dado empírico, esta sensação é desinteressada do objeto (ou seja,
não se refere a ele, mas ao sentimento do sujeito vinculado a essa
experiência), numa tentativa de contemplação pura (isto porque Kant é o
filósofo da possibilidade e postula tal concepção), de prazer puro. E Kant vai
ainda mais longe: pressupõe que tal estado mental é relacionado à comunicabilidade,
pretendendo o caráter de universalidade. Se os homens se colocarem em um mesmo
estado de receptibilidade (ou seja, se colocarem no lugar do outro), sentirão o
mesmo prazer. Porém, em uma universalidade subjetiva, porque não há uma
intuição aplicada a um conceito.
Percebe-se,
dessa forma, a construção do sistema kantiano de uma unidade da razão, unidade
harmônica, pois a faculdade de julgar estética fornece princípios a priori para as
faculdades de conhecer e de apetecer, mantendo-se como ordenadora do embate
entre essas duas faculdades (o famoso livre jogo das faculdades). Assim,
conhecer e agir, objetivamente, depende do modo como fomos afetados e
concebemos a beleza do mundo subjetivamente, proporcionando um estado de
consciência sempre em conflito entre as faculdades, mas com a possibilidade do
equilíbrio entre elas. O livre jogo entre as faculdades, por si só, é
prazeroso, isto é, o sentimento informa a harmonia e o equilíbrio entre essas
funções cognitivas e isso pode ser pressuposto em todos os homens.
Portanto,
segundo Kant, o gosto é sim universal, e o homem (ser entre o animal e Deus)
deve, através da educação dos instintos, aprimorar a sua receptibilidade ao
verdadeiro prazer, intelectual, entendido como o saber e a ação cada vez mais
universais. Aprimorar os sentimentos significa o aprimoramento da razão e,
portanto, do próprio homem.
ATIVIDADE PROPOSTA:
¹.
Defina as palavras grifadas.
².
Comente cada expressão grifada.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 13
AULA 14: A FILOSOFIA DE KARL POPPER
PENSAMENTO DO DIA: “Só os mortos
conhecem o fim da guerra”. Platão
Na
Filosofia da Ciência contemporânea há duas tendências que avaliam os
procedimentos e fundamentos do cientista. Uma é a Tendência Histórica e a outra
é a Tendência Analítica.
Assim
como o Círculo de Viena,
Popper faz parte da Tendência Analítica que prioriza o aspecto metodológico no
desenvolvimento científico, o também chamado contexto de justificação. Porém,
apesar da adesão comum, Popper é, talvez, o crítico imediato de tudo o que foi
estabelecido no Círculo de
Viena.
Em
primeiro lugar, Popper não elimina a metafísica; simplesmente, assim como Kant,
tenta delimitar os campos de atuação desta e da ciência. Em segundo lugar, esta
delimitação ocorre pelo fato de Popper não atentar para o conceito de significação,
unicamente como critério de demarcação ou de impossibilidade da metafísica. Em
terceiro lugar, Popper critica a forma de proceder por indução. Esta
permitiria apenas uma semelhança de regularidade que proporcionaria uma
coletânea de fatos que impossibilita que se refute uma teoria.
Por
conseguinte, Popper formulou um novo método. É o modelo hipotético-dedutivo.
Para Popper, a busca do conhecimento não se dá a partir da simples observação
de fatos e inferência de enunciados. Na verdade, esta nova concepção pressupõe
um interesse
do sujeito em conhecer determinada realidade que o seu quadro de referências
já não mais satisfaz. Por isso, a mera observação não é levada em conta, mas
sim uma observação intencionalizada, orientada e seletiva que busca criar um
novo quadro de referências.
É
assim que surge o modelo hipotético-dedutivo. A partir da seleção do objeto a
ser observado, e verificada a insuficiência do quadro de referências, o
cientista formula uma hipótese geral da qual se deduzem consequências que
permitem a possibilidade de uma experiência. Aqui já não mais é necessário
verificar para atribuir significado, isto é, verdade ou falsidade, mas a
tentativa é de refutar a teoria que permite o estabelecimento de um
conhecimento e a possibilidade de seu desenvolvimento. É o critério da Falseabilidade.
A
Falseabilidade ou
sua tentativa é, pois, o critério de demarcação entre o que é científico e o
que é metafísico, mítico ou poético etc., substituindo o conceito de Verificabilidade do Círculo de Viena. Para
Popper, este método caracteriza (senão acentua) o aspecto criativo da ciência
em detrimento ao modelo da inferência que não responde por nenhuma expectativa
do sujeito/cientista.
ATIVIDADE PROPOSTA:
¹.
Defina o Círculo de Viena.
².
Estabeleça o confronto entre Falseabildade e Verificabilidade.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 14
AULA 15: A FILOSOFIA DA CIÊNCIA EM THOMAS KUHN
PENSAMENTO DO
DIA: “O erro acontece de vários
modos, enquanto ser correto é possível apenas de um modo”. Aristóteles
Thomas
Kuhn foi um daqueles pesquisadores da Filosofia da Ciência que defenderam o contexto de descoberta,
o qual privilegia os aspectos psicológicos, sociológicos e históricos como
relevantes para a fundamentação e a evolução da ciência.
Para
Kuhn, a ciência é um tipo de atividade altamente determinada que consiste em
resolver problemas (como um quebra-cabeça) dentro de uma unidade metodológica
chamada paradigma.
Este, apesar de sua suficiente abertura, delimita os problemas a serem
resolvidos em determinado campo científico. É ele que estabelece o padrão de
racionalidade aceito em uma comunidade científica sendo, portanto, o princípio
fundante de uma ciência para a qual são treinados os cientistas.
O
paradigma caracteriza
a Ciência Normal. Esta se estabelece após um tipo de atividade desorganizada
que tenta fundamentar ou explicar os fenômenos ainda em um estágio que Kuhn
chama de mítico ou irracional: é a pré-ciência. A Ciência Normal também ocorre
quando da ruptura e substituição de paradigmas (o que não significa voltar ao
estágio da pré-ciência). É que dentro de um modelo ocorrem anomalias ou contra exemplos
que podem colocar em dúvida a validade de tal paradigma. Se este realmente se
torna insuficiente para submeter as anomalias à teoria – já que vista de outro
ângulo elas podem se tornar um problema – ocorre o que Kuhn denomina de Ciência
Extraordinária ou Revolucionária, que nada mais é do que a adoção de um outro paradigma, isto é, de
visão de mundo.
Isto
ocorre porque dentro de um paradigma há expectativas prévias que os cientistas
devem corroborar. Por isso, os cientistas não buscam descobrir (como entendiam
os pensadores do contexto
de justificação) nada, mas simplesmente adequar teorias a
fatos. Quando ocorre algo diferente deste processo, isso se deve a fatores
subjetivos, como a incapacidade técnica do profissional, ou à inviabilidade
técnica dos instrumentos, ou ainda à necessidade de real substituição do paradigma vigente.
Para isso, os cientistas usam hipóteses ad
hoc para tentar manter o paradigma
(contrário ao que pensava Popper). Aqui, Kuhn evidencia o
caráter de descontinuidade do conhecimento científico que progride, então, por
rupturas e não pelo acúmulo do saber, como pensava a ciência tradicional.
ATIVDADE PROPOSTA:
¹. Defina o estágio de pré-Ciência.
². Explique o conceito de paradigma em Kuhn.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 15
AULA 16: A FILOSOFIA DE HEGEL
PENSAMENTO DO DIA:
”A razão governa a história”. Hegel
A
simples constatação ou fé de que a Razão
governa a História
é a motivação da pesquisa de Hegel em sua “Filosofia da História”. E
o fim último dessa Razão é a sua realidade concreta, ou seja, o Estado.
No
percurso do que Hegel chama de história filosófica, em virtude da concretização
da Razão, ele percebe os grandes momentos em que o Espírito Absoluto,
com sua qualidade intrínseca ou fim em si mesmo que é a liberdade, lutou
para superar a si mesmo num movimento contínuo e progressivo (progresso da
consciência humana). Esses momentos são especiais porque revelam o que há de
potencial em cada ato do ser humano (no caso aqui, o homem histórico). Enquanto
ser dotado de Vontade e paixões particulares, buscando atingir seus
interesses próprios, os homens vão, através desses momentos, superando e
suprimindo as suas necessidades imediatas. Mas o fim de cada ação particular
contém também um objetivo geral, segundo Hegel. E quando uma ação se une à
outra e a partir de um indivíduo é expressa, carrega em si toda a realização e
transformação necessárias em cada época.
Um
indivíduo comum tem suas necessidades imediatas, seus interesses próprios, suas
paixões, etc.; visa, portanto, em cada ato voluntário, suprimir tais
necessidades, interesses e paixões. E embora seus atos particulares contenham
potencialmente o que há de universal, eles não conseguem ou mesmo não querem
realizá-los, ficando satisfeitos com o que conquistaram para si. Já os grandes indivíduos históricos universais,
homens que compreenderam seu tempo, aproveitaram a oportunidade,
contrapuseram-se e superaram as leis e os direitos estabelecidos vigentes em
sua época. Estes homens, também com suas paixões particulares, uniram em ato
essas paixões e o potencial da universalidade (da vontade geral) nelas
contidas, expressando a antítese que é o meio necessário para a transformação
de sua realidade, que, por sua vez, sintetiza o interesse da Razão. Mas, apesar
de sua grandeza e ao contrário dos indivíduos comuns, não foram homens felizes.
Mesmo inconscientes da ideia diretora, foram homens excelentes (históricos)
porque edificaram partes importantes da História Universal que é, para Hegel, o
progresso na consciência da liberdade.
Se,
portanto, para Hegel a Razão governa a História e os indivíduos são dotados de
uma capacidade de realizar os interesses de suas paixões, aliada ao universal,
sendo este o resultado da atividade particular e de sua negação, pode-se
questionar como se dá a relação do particular com o universal. Na ação de um
indivíduo (o histórico universal), a relação entre interesse particular e o
universal é inseparável e se dá por participação.
Significa que este indivíduo se expõe aos perigos gerados por sua ação e se
desgasta nos conflitos de oposição, enquanto agente privado, e que a ideia, que
é o universal, mantém-se ilesa, intocável. É o que Hegel denomina de “Astúcia da Razão”.
A
Astúcia da Razão consiste em salvaguardar a ideia, permitindo que as paixões
atuem por si mesmas, experimentem perdas e danos para que nessa luta e nessa
perda sempre sobressaia algo, sempre exceda algo positivo, afirmativo. É o
preço do sacrifício pela progressiva consciência da liberdade e que justifica
as ações dos grandes homens não só de imediato, mas em toda a História.
ATIVDADE PROPOSTA:
PRODUÇÃO TEXTUAL: Produza
um texto explicando o Espírito Absoluto.
20 linhas.
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 16
AULA 17: A NOÇÃO DE PROGRESSO EM MARCUSE
PENSAMENTO DO DIA: “Apressa-te a viver
bem e pensa que cada dia é por si só, uma vida”. Sêneca
A noção de
progresso pode ter duas acepções: a primeira diz respeito a seu aspecto
quantitativo que exibe a evolução da técnica na busca da dominação da natureza.
O segundo aspecto é qualitativo e aborda o desenvolvimento das potencialidades
humanas, visando a sua plena realização.
A
visão psicanalítica de Freud coloca a impossibilidade da felicidade do ser
humano. Isso porque de acordo com esta teoria, o trabalho na sociedade
burguesa não é prazeroso, visto que é empregado como valor socialmente útil, o
que causa a repressão das pulsões
de Eros ou do princípio de prazer, impedindo a sua plena
satisfação.
A
evolução do progresso quantitativo ou técnico que utiliza ou dispende uma
grande quantidade de energia pulsional se deu em detrimento do progresso
qualitativo ou humano. A tentativa de dominação da natureza pelos homens
acarretou a dominação destes pela produtividade. Esta condiciona o
comportamento dos indivíduos em sociedade, visando sempre atender apenas às
suas necessidades. Mesmo quando o indivíduo se beneficia com alguma melhora nas
suas condições de existência é sempre para que a produção tenha maior eficácia
e rentabilidade. A vida do indivíduo torna-se administrada, a visão linear do
tempo determina o presente visando um futuro incerto, porém que se impõe a
esse. O passado já não mais serve para nada.
Se
para Freud esta visão só possibilita a infelicidade, para Marcuse ela é o ponto
chave para o desenvolvimento humano. As condições técnicas que surgiram para
satisfazer as necessidades básicas do ser humano já permitem que se dê um salto
qualitativo para o progresso deste mesmo ser humano. Para isso, entretanto, é
necessário dessublimar a
cultura que só tende a produzir bens supérfluos e divulgar a aquisição de tais
bens como fonte de liberdade e felicidade. Deve-se contrapor àquela visão
linear de tempo, uma visão que tem apenas uma curva ascendente, uma visão do
tempo pleno, de duração e satisfação reais. Para Freud, a infelicidade se
caracteriza pela impossibilidade da realização dos desejos. Marcuse propõe a
transcendência desses desejos a fim de alcançar a plena fruição das pulsões
(claro, com o mínimo de repressão!) que caracterizam a verdadeira felicidade.
Portanto,
a máscara do sistema caiu com a teoria de Marcuse que evidencia a indevida
associação de liberdade e felicidade ao consumo de bens, o que na verdade
provoca o efeito ilusório de satisfação, fomentando cada vez mais os desejos e
tornando as pessoas doentes, pois a coisificação da expressão não é suficiente
para a plenitude e satisfação. É necessária a desvinculação destas ideias CONSUMO
= LIBERDADE, para que possamos pensar em um progresso realmente qualitativo de
vida e de relações humanas. Como diz Marcuse, “o tempo compreendido de forma linear é vivido em relação
a um futuro mais ou menos incerto” de forma que “o tempo pleno, a duração da
satisfação, a duração da felicidade individual, o tempo como tranquilidade, só
pode ser imaginado como sobre-humano...”. Esta pode ser uma
alternativa para as reflexões atuais sobre sistemas produtivos, superando a
antítese entre capitalismo e comunismo exagerados.
ATIVIDADE PROPOSTA:
¹.Defina
a ideia de progresso em Marcuse.
².
Por que a ideia de progresso de Marcuse difere da realidade?
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 17
AULA 18: A PSICANÁLISE
TENTA EXPLICAR COMO SE DÁ A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE DO INDIVIDUO
PENSAMENTO DO DIA: “Gostaria de viver para estudar e não
de estudar para viver”. Francis Bacon
A teoria psicanalítica de Freud foi desenvolvida
para explicar os processos psíquicos que caracterizavam os padrões de
comportamento do indivíduo inserido em uma sociedade em que prevaleciam os
valores burgueses consolidados e que, embora surgisse em época e local
determinados, pretendia-se universal.
Tal
teoria esboçava os vínculos libidinais
que proporcionavam a existência da civilização num período
sub-histórico. Cada indivíduo possui um princípio que tende a ser satisfeito,
que é o princípio de prazer ou pulsão
de Eros. Há também outro princípio que busca retornar ao estado
de vida inorgânica ou de repouso absoluto. É o chamado princípio de morte ou pulsão de Thânatos. Ambas
são pulsões do inconsciente ou ID
e caracterizam-se por serem associais, amorfas, etc.
A
psicanálise tenta explicar como se dá a formação da personalidade do individuo
ou EGO e
qual a relação entre este e o seu interior (ID) e também com o exterior ou SUPEREGO. Este
último caracteriza-se por apresentar-se sob o princípio de realidade que se
impõe ao indivíduo de forma repressiva (necessária e mínima para que exista a
vida orgânica). No desenvolvimento da teoria, este princípio de realidade é
apresentado como o “pai” que subjuga os filhos, impõe-lhes a abstinência sexual
(devido ao desejo incestuoso para com a mãe) e determina os padrões a serem
seguidos. Porém, o princípio de prazer ou a energia erótica destes “filhos” não
admitem, num primeiro momento, a autoridade e a imposição paterna, e então,
ocorre o parricídio (ação
que já busca a liberdade – fruição das pulsões). Mas sem orientação, porque
lhes falta autonomia suficiente (a necessidade do “pai”), os filhos assassinos
reestabelecem a moral paterna.
A
obsolescência desta teoria se deve por causa das modernas formas de vida nas
sociedades industriais avançadas: o pai (ou a família dominada por ele) já não
é mais o núcleo transmissor do princípio de realidade que antes submetia, sob
coação física, o sujeito, tornando-o obediente a tal agente. Nestas sociedades,
os filhos saem mais cedo de casa, podem escolher seus postos de trabalho (não
herdando os do pai) e há muita “liberdade” sexual. Já não há mais o pai, o que
torna a teoria insustentável.
Entretanto,
Marcuse, apesar de evidenciar que a teoria tornou-se obsoleta, ultrapassada no
sentido individual, explicita sua verdade de forma ainda mais necessária ao
nível social. Enquanto que ao nível do indivíduo e voltada para a terapia
(adequando o indivíduo à ordem), esta teoria parece inadequada; pode ela servir
apenas para auxiliar na compreensão dos processos psíquicos individuais nas
sociedades industriais avançadas. Isto porque nestas sociedades, onde já não
existe a figura do pai, constitui-se um modelo heterônomo em relação ao
indivíduo. Nas sociedades de massas, o sujeito histórico foi substituído pela
produtividade. Esta é a verdadeira fonte de dominação que, uma vez posta em
movimento, atingiu um estágio no qual se movimenta a si mesma. É ela que
determina os valores sociais a serem seguidos porque estabelece uma relação com
os indivíduos. Visando satisfazer as necessidades básicas dos seres humanos,
com o tempo criou-se necessidades supérfluas que precisam ser consumidas e que
tal consumo se apresenta como satisfação compensatória das energias pulsionais
eróticas, fazendo-se acreditar que se é livre por poder obter bens (basta ver
as propagandas da Honda, Coca-cola, Wolksvagem, por exemplo, em que se associa
a ideia de liberdade apenas adquirindo tal produto!).
Portanto,
não há sujeito dominante. Há sim uma massa amorfa que oscila entre produtos
fungíveis que necessita de líderes e estes, de forma secundária (já que
dominante é o sistema produtivo) são também fungíveis e supérfluos. Estes
líderes ou grupos aos quais pertencem uma certa massa coletiva estabelecem
vínculos sentimentais com seus indivíduos e a identificação do EGO com o pai é
substituída pela identificação com o EGO coletivo. O problema consiste no
desequilíbrio entre as duas pulsões. Se se altera a pulsão de Eros,
sobrecarrega-se a de Thânatos, o que gera uma grande quantidade de energia
agressiva destrutiva acumulada que é redirecionada para um inimigo
arquetipicamente construído. É o risco da irracionalidade que forma as
sociedades afluentes onde a manutenção do sistema alienado de produção se dá
pela repressão camuflada que ocasiona o estado beligerante de caráter
permanente e em que outros agentes sociais são formadores de comportamento.
ATIVIDADE PROPOSTA:
¹. Defina:
a)
Id;
b)
Ego;
c)
Superego
d)
Thânatos;
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Apostila de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 18
AULA
19: CIÊNCIA E ESTRUTURALISMO EM WITTGENSTEIN
PENSAMENTO
DO DIA: “A educação
exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida”. Sêneca
Diz-se
“primeiro Wittgenstein” porque a obra deste eminente filósofo da linguagem do
século XX é comumente dividida em duas partes: a que se refere ao Tractatus Logico-Philosophicus, que
será visto aqui, e as Investigações
Filosóficas. O Tractatus,
como ficou conhecido, foi a primeira obra do pensamento
contemporâneo que pretendia aplicar não só a matemática e seu rigor à
linguagem, mas também compreender a relação ontológica que há entre o mundo o
pensamento. Essa foi a primeira etapa do pensamento de Ludwig Wittgenstein.
Conforme
o autor, o mundo é dividido em partes menores. A representação complexa do real
subdivide-se no que ficou conhecido por fatos
atômicos. Dessa forma, a linguagem, através das proposições,
alcança o real por fazer parte da estrutura mesmo desse. A linguagem também
pode ser subdividida até princípios elementares que são frases, palavras e
letras que, moldadas devidamente, seriam capazes de espelhar exatamente a
realidade.
Wittgenstein
parece recuperar uma discussão antiga estabelecida no livro Crátilo de Platão que
versa sobre a correção dos nomes e do elo natural que há entre estes e as
coisas. Assim, desenvolve a partir da compreensão platônica de que o nome imita
a sua coisa, a sua teoria pictória ou figurativa, em que a linguagem representa
exatamente o mundo. No entanto, a estrutura simbólica não é dada a partir de
letras e sílabas, nem ao menos da palavra isolada. A menor unidade de sentido
estabelecida na linguagem é a proposição (portanto, referindo-se não mais ao Crátilo e sim ao diálogo Sofista de Platão onde
fica claro que o pensamento é proposicional). Assim como há fatos atômicos, há
também proposições
atômicas que expressam devidamente a realidade.
Há,
assim, uma estreita conexão também entre Wittgenstein e Kant. Este dizia que o
nosso conhecimento só poderia ser fenomênico, ou seja, através de uma aliança
entre o que percebemos (intuição) e o que julgamos (conceito), segundo as
formas transcendentais. Foi justamente esse caráter antimetafísico que fez com
que os pesquisadores do Círculo de Viena se interessassem pela filosofia de
Wittgenstein. No entanto, há o indizível, há o aquilo que não se pode dizer e que,
portanto, promove a distinção entre o Círculo e Wittgenstein: para o grupo de
Viena, o que não se pode dizer, sequer existe e justamente por isso, a ciência
natural e a linguagem adequada constituem a totalidade do mundo, enquanto que
para o nosso filósofo, “daquilo que não se pode falar, deve-se calar”, ou seja,
para Wittgenstein, o indizível, o inefável é mais importante do que o dizível.
A ética e a metafísica não podem traduzir-se em discursos. E é nisso que
consiste o aspecto místico do Tractatus.
A
inspiração de Wittgenstein é clara. Para ele, a filosofia não é doutrina, não é
um conjunto de saberes prontos para serem utilizados pelas ciências naturais,
como pretendiam os estudiosos do Círculo de Viena e os neopositivistas, mas
trata-se de uma atividade útil para corrigir a linguagem e, portanto, o
pensamento.
Portanto,
para a primeira fase do pensamento de Wittgenstein há uma forma de compreender
o mundo que é analisar a linguagem, já que “o mundo é o que acontece” e é
também uma “proposição exata”. “A proposição é uma função de verdade” e “a
representação lógica dos fatos é pensamento”.
ATIVIDADE PROPOSTA:
PRODUÇÃO TEXTUAL: “O mundo é o que acontece”. 20 inhas
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 19
AULA 20: A DIALÉTICA
PARA SARTRE
PENSAMENTO DO DIA: “Aprende a viver como
deves, e saberás morrer bem”. Confúncio
A
dialética para Sartre é a própria relação que o SER-PARA-SI estabelece com o
SER-EM-SI. Os objetos materiais não têm consciência, são inertes aos fatos,
repousam na plenitude de sua contingência. Já o homem, o Ser-para-si que também
é um Ser-em-si (corpo), tem consciência e esta estabelece relações de negação
com os objetos, emitindo juízos e observando suas contradições.
Este
movimento, oriundo do Para-si, é a própria dialética e Sartre quer justamente
argumentar a favor desta em detrimento da supremacia, até então estabelecida,
da Razão Analítica,
na qual se acreditava que os cientistas poderiam observar e descrever com total
imparcialidade e objetividade o mundo dos fenômenos.
Sartre
aponta sobre esta questão, evidenciando, devido ao seu método, que a relação
sempre se dá no plano da subjetividade.
Para ele, é impossível se alcançar alguma objetividade
sem que esta não seja parcialmente subjetiva (tenha passado pela
subjetividade). Não existem verdades que não sejam aquelas atestadas por uma
consciência em determinado tempo e lugar.
Estabelecida
a dialética desta forma, a crítica de Sartre recai também sobre o marxismo que
considera a consciência do homem determinada pelo materialismo histórico-dialético.
Se para Sartre a consciência tem liberdade para tomar decisões e ser
responsável por elas, jamais ele admitiria que a história fosse ou fizesse
parte de um processo material, ou seja, não conceberia que a dialética da
história fosse determinada pelas condições materiais de existência, mas sim
pelas consciências dos homens e só dos homens. A história é característica do
homem, pois só o Ser-para-si é totalizante ou está com totalização-em-curso. Os
seres Em-si já são plenos.
O
que de fato ocorreu, portanto, diz Sartre, é que se aplicou erroneamente o
método analítico (Razão Analítica) para explicar um processo dialético (Razão
Dialética). Não se aplica a dialética à natureza. O ser-em-si ou a matéria não
tem temporalidade (passado, futuro); não enxerga suas contradições e por isso não
possui história. Esta é característica dos homens que por se constituir como
totalização-em-curso, nadificação do ser, etc., cria projetos sempre para
alcançar seus objetivos, espelhando o passado para construir o futuro. Porém,
seus projetos nunca são totalmente alcançados, gerando angústia.
ATIVIDADE PROPOSTA
PRODUÇÃO
TEXTUAL:
¹.
Explique o que é dialética.
².
Porque o homem dialético se angustia?
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Apostila
de Filosofia [3º ANO] 2012 Página 20